Feminismo: uma luta de todas… ou quase todas?
“O machismo, em sua grande parte, nasce dentro do antro tradicional, em que o homem se sente o centro do universo e detentor de ditar as regras e de como as coisas devem ser feitas”
Começo este artigo já intrigado: falar sobre os direitos das mulheres, sobre feminismo, sendo um homem branco, banhado de privilégios que me são dados todos os dias. À primeira vista soa absurdo, mas, em segundos, a ideia se transforma. O dever de toda pessoa em posição de privilégios é usá-lo para dar voz àqueles que precisam. Não, eu não estou aqui escrevendo isso para me gabar de ser alguém privilegiado, muito pelo contrário. Eu trago uma reflexão necessária, em meio a um tempo moderno, que cada vez mais se mostra como um tempo reverso, que avança nos números, mas retrocede em suas ações.
Em 1978, Larry Flynt declarou que as mulheres não seriam mais tratadas como um pedaço de carne na capa da revista Hustler. A capa mostrava a parte inferior de um corpo feminino dentro de um moedor de carne, sendo a parte superior já transformada em carne moída. O mais irônico de tudo: a revista era considerada uma das maiores propagadoras de pornografia dos Estados Unidos. E o seu dono era Larry Flynt.
O reflexo e a repercussão dessa capa foram temas de diversas discussões de como as mulheres sempre foram consideradas apenas como objetos sexuais e domésticos, programados para limpar, cuidar e satisfazer. O machismo sempre foi e é uma consequência da padronização de uma vida tradicional, formada pela “família perfeita”, onde o homem traz o pão para casa, a mulher cuida dos afazeres domésticos, e as crianças brincam felizes e são educadas para serem o reflexo de seus pais.
Você consegue sentir a gravidade dessa situação? Se a resposta for não, se preocupe, pois há algo bastante errado com você. Para os que sentiram um incômodo bem lá no fundo, fico feliz e satisfeito de tê-lo causado. O machismo, em sua grande parte, nasce dentro do antro tradicional, em que o homem se sente o centro do universo e detentor de ditar as regras e de como as coisas devem ser feitas.
A mulher negra da periferia é tachada sempre como a empregada ou faxineira, a mãe solteira com o filho envolvido em crimes ou a melhor amiga da mulher branca bem-sucedida. Reconheceu essas histórias, né? Elas são de mulheres retratadas em novelas, da sua melhor amiga, da sua vizinha, da “tia da limpeza” que você esbarra todos os dias no corredor da faculdade ou do seu trabalho.
A reflexão que eu venho trazer, depois de todos esses grandes pontos, é triste, mas, em meu olhar, esperançosa. Lutamos contra um único mal, que se fragmenta em grandes outros males. É como uma grande Hidra: você corta uma cabeça, e nascem outras duas no lugar. Mas sempre terá a cabeça-chefe. Corte-a, e todas as outras morrem. Veja o machismo como uma Hidra.
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