Você realmente está vivo?


Por Mario Eugenio Saturno, Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

29/06/2022 às 07h00

Provavelmente, você já assistiu ao filme Total Recall do Arnold Schwarzenegger, de 1990, ou Matrix, de 1999, e suas continuações, cujo argumento é que todos os seres humanos vivem em uma simulação. Bem, nem todos. Há Morfeus, que vive no mundo real e invade o sistema, libertando pessoas da simulação. De qualquer forma, são seres vivos biológicos, mas havia também os seres artificiais compostos de uma inteligência artificial (IA), como a Oráculo.

Em 2003, o filósofo Nick Bostrom escreveu um artigo na revista Philosophical Quarterly em que propôs que o nosso universo poderia ser uma simulação de computador, ou seja, seríamos inteligências artificiais em um mundo simulado.
Fouad Khan escreveu uma interessante matéria na Scientific American sobre o assunto, apontando que a ideia teve adesão de alguns “gênios” da atualidade, como Elon Musk e o cientista Neil deGrasse Tyson, discípulo de Carl Sagan.

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Já o físico Frank Wilczek não acredita nisso. Seu argumento é que há muita complexidade desperdiçada em nosso universo para ser simulada. A complexidade de um edifício requer energia e tempo. Por que um “designer” de realidades desperdiçaria tantos recursos para tornar nosso mundo mais complexo do que precisa ser? Isso não é exatamente verdadeiro. Como em um jogo, precisaria apenas simular com detalhes aquilo que está no foco dos nossos sentidos, como visão e audição.

Também a física e comunicadora científica Sabine Hossenfelder entende que essa hipótese não é científica, não podemos realmente testá-la ou refutá-la, e, portanto, não vale a pena investigar seriamente. Mas isso também não é inteiramente verdade. Há algumas operações de computador que demoram o mesmo tempo, porque depende da capacidade operacional do computador. Por exemplo, em um computador moderno, o tempo de somar 1+1 é igual ao de somar 458.391+763.611, ou seja, se você demorar, pode ser um indicativo de viver na realidade… Ou a simulação é muito boa!

De qualquer forma, a simulação não precisa ser muito boa, apenas boa o suficiente para enganar as inteligências simuladas. Mesmo assim, precisa-se de muita capacidade computacional. Por exemplo, Bostrom estimou que para cada ser humano simulado seria necessário de 10^33 (quatrilhões de quintilhão) a 10^36 (quintilhão de quintilhão) de operações por segundo. Usando a tecnologia atual, um computador tão grande quanto nosso Planeta Terra simularia um milhão de seres humanos.

A capacidade computacional dos computadores cresceu incrivelmente nos últimos 50 anos e deve crescer ainda mais, mas há um limite físico para isso. Provavelmente, a tecnologia evoluirá para simular um cérebro com capacidade cognitiva de um ser humano, mas ainda será grande demais, e o cérebro biológico parece ser imbatível em solução viável.
Fouad Khan intitulou sua matéria de “Confirmado! Vivemos em uma Simulação” e que foi publicado em 1º de abril, o Dia da Mentira, ou dos tolos, como dizem os americanos. Um dia excelente para pregar uma peça nos leitores, mas, nesse caso, para dizer que a própria realidade que vivemos pode ser uma mentira de fato.

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