Igreja Católica e eleições: a experiência brasileira
A única experiência de intervenção direta da Igreja Católica em eleições, no que concerne o Brasil, se deu em 1933, por meio da Liga Eleitoral Católica. Ao criar esse instrumento político, a Igreja evitava manifestar apoio a algum partido político, mas mobilizava o eleitorado católico em favor de candidatos que se comprometessem a inscrever na Constituição de 1934 os princípios morais da doutrina católica. Seu fulcro era a salvaguarda legal dos direitos da família fundada sobre o matrimônio monogâmico e indissolúvel. O resultado dessa experiência foi tido como muito positivo, mas, ao ser repetida nas eleições de 1945 e 1950, não alcançou o mesmo sucesso eleitoral. Ficou, contudo, a regra de ouro para a relação entre Igreja e eleições no Brasil: a Igreja não tem um partido, mas apoia o(s) partido(s) e candidato(as) que se alinham com seu ensino social.
A tradição brasileira diferenciou-se muito da linha seguida noutros países – como Itália, Alemanha e Chile -, onde o Partido da Democracia Cristã era publicamente respaldado pela Igreja Católica.
Isso não significa, porém, que a Igreja Católica do Brasil se abstivesse de tomar posição diante de cada realidade histórica. Com receio de uma revolução de inspiração comunista, ela apoiou a intervenção militar de 1964; mas, pouco mais tarde, contrariou os mesmos governantes ao condenar torturas e violações de Direitos Humanos. Na década de 1980, ela apoiou os movimentos sociais que trabalhavam para que a Constituição de 1988 garantisse os Direitos Humanos, aí incluídos os Direitos da Família, dos Povos Originários e dos setores sociais mais vulneráveis. Ao entrar em vigor a Constituição, a Igreja tomou posição mais discreta, limitando-se a dar a orientação pastoral e formar a consciência social dos fiéis, de modo especial por meio das Campanhas da Fraternidade, que a cada ano recebem um tema com incidência social, como é a fome – tema do próximo ano.
O quadro eleitoral de 2022 traz um fato novo: as manifestações por meio de redes de internet. Embora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tenha evitado que bispos e presbíteros tomassem posição pública em favor de um candidato, multiplicaram-se as mensagens dirigidas a eleitores católicos alertando-os para uma nova ameaça comunista de perseguição à Igreja. Diante desse clima de insegurança quanto à verdade do que é difundido pelas redes, é preciso guardar o bom senso e desconfiar de mensagens que difundem medo ou ódio.
Nesse contexto, ganha importância o que disse o Papa ao saudar os peregrinos de língua portuguesa no dia 26 de outubro, quando pediu a intercessão de Nossa Senhora Aparecida para que “proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência”.
É o pedido que os cristãos leigos e leigas fazemos a nossa Padroeira: saber discernir o projeto colocado por Jesus na oração ao Pai Nosso. Que venha a nós o Reino de Deus, Reino de Paz e de Justiça.