Centenário do comunismo

“Os acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais levaram Lindolfo Hill a fazer parte da história do PC de Juiz de Fora, de Minas Gerais e do Brasil”


Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor

28/04/2022 às 07h45

Este ano, os comunistas comemoram 100 anos da fundação do partido no Brasil. Serão muitas festas por todo o país, mas será que o partido e seus membros antigos têm algo para comemorar? Em Juiz de Fora, o PCdoB comemorou a data com várias atividades. Desde sua fundação, em 1922, a classe trabalhadora viveu os períodos mais obscuros da história política brasileira, e hoje passamos por um momento de retrocesso dos direitos e das liberdades democráticas conquistadas.

Na época de Lindolfo Hill, um dos juiz-foranos engajados nacionalmente no partido, o que os comunistas mais desejavam era uma sociedade mais justa e mais igualitária. Porém, odiada pela elite de direita, a militância comunista sempre implicava risco de morte, tortura, prisão, exílio e clandestinidade. Hill viveu entre 1917 e 1977 e se tornou uma das vítimas de regimes autoritários, da ditadura militar, da falta de democracia e de liberdade de expressão. Os acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais levaram Lindolfo Hill a fazer parte da história do PC de Juiz de Fora, de Minas Gerais e do Brasil.

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É importante lembrarmos que a militância comunista implicava o abandono de familiares e amigos e uma vida na clandestinidade. Mas ninguém entra na clandestinidade por livre e espontânea vontade. Lindolfo Hill ousou na defesa de seus ideais. Para ele, ser comunista não era somente entrar para o partido, mas sim uma opção de vida. Como um dos maiores expoentes políticos do Partido Comunista de Juiz de Fora, Lindolfo Hill lutou por melhores condições na sociedade. Sua história, que se confunde com a do PC local e nacional, revela a face brutal da repressão do Estado Brasileiro para garantir os interesses da elite.

Lindolfo Hill foi o primeiro vereador comunista de Juiz de Fora, eleito em 1947 com a segunda maior votação. Mas, mesmo com o apoio popular, foi perseguido e covardemente cassado em 1950 e até hoje não foi redimido nem oficialmente reconhecido. Lindolfo Hill foi um exemplo de luta para os ativistas de hoje, e, em homenagem ao maior comunista de Juiz de Fora, publiquei meu terceiro livro “Lindolfo Hill – um outro olhar para a esquerda”, uma biografia que resgata a trajetória desse juiz-forano.

Alem de Lindolfo Hill, Juiz de Fora produziu muitos comunistas de fibra que defenderam as ideias socialistas em diversas épocas. No início do partido, era Luiz Zuddio que visitava as portas de fábrica de um município industrializado. Com Lindolfo, mobilizaram as massas até 1950, quando entraram para a clandestinidade. Depois vieram o deputado federal José Luiz Moreira Guedes e sua esposa, a primeira vereadora comunista juiz-forana, Nair Barbosa Guedes. Os dois representantes do PCdoB foram para a clandestinidade na guerrilha do Araguaia e depois exilados na Europa. Na atualidade, os comunistas de Juiz de Fora mais proeminentes foram candidatos a prefeito e vice, Fernando Eliotério (PCdoB) e Luiz Carlos “Kaizim” Torres (PCB). Entre outros, a nova geração de comunistas é representada e liderada por Igor Dias (PCB) e Paulo Sérgio de Oliveira (PCdoB). Com eles em Juiz de Fora, a luta continua por uma sociedade mais justa e mais igualitária.

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