Rodovias que perdoam! (parte I)
“Rodovias perdoam ou pedem perdão? Mas perdão de que e por quê?”
“Mea culpa” é uma expressão latina que se traduz por “minha culpa”, uma atitude muito comum aos que se sentem culpados pelo cometimento de algum erro do qual pretendem o perdão do ofendido. Rodovias perdoam ou pedem perdão? Mas perdão de que e por quê?
Senão vejamos: os acidentes de trânsito derivam de três fatores: humano (90% dos acidentes de trânsito são causados por falhas humanas), veiculares e relativos às vias. No que se refere a estas, consideram-se o estado de conservação das rodovias, as condições da sinalização, a falta de acostamento e a falta de passarelas. Refletindo sobre essas causas, conclui-se que na construção das rodovias isso é muito pouco, há muito mais a ser feito, e, nesse sentido, a engenharia viária, ainda que trabalhando esmeradamente conforme normas técnicas, pode vir a cometer erros de projetos.
Nesse sentido é importante realizar diagnósticos das vias, com o objetivo de se evitar que acidentes ocorram, ou seja, as rodovias, em hipótese alguma, podem ser responsáveis por acidentes. Mas isso, em princípio, é um raciocínio lógico. Os engenheiros rodoviários responsáveis pelos projetos viários se preocupam sempre em oferecer aos usuários rodovias modernas e seguras. O tempo, porém, se encarrega de modificar conceitos.
O objetivo dos técnicos sempre foi oferecer ao usuário as melhores condições possíveis de trafegabilidade. Assim, uma rodovia de sentido único, em princípio, sempre será mais segura que uma rodovia de sentido duplo. Rodovias sem acostamentos e sem áreas de escapes oferecem muito mais riscos do que rodovias com acostamentos e áreas de escapes. Rodovias de sentido único são sempre muito bem vistas e desejadas pelos usuários. De um modo geral, essas rodovias, aparentemente, reduzem as possibilidades da ocorrência de colisões frontais, permitem aumento da velocidade e, suspostamente, são consideradas mais seguras. Será?
Rodovias que perdoam! Segundo o engenheiro civil militar/rodoviário Marcelo da Costa Vieira, secretário Nacional de Transporte Terrestre, profissional com mais de 30 anos de experiência em projetos e construção de rodovias, acredita-se que muito do que a engenharia fez pela segurança viária pode ter sido uma utopia. O que se fez até agora para proteger vidas pode não ter sido o melhor, diz ele: “Há um novo processo, e, dentro desse processo, procedimentos em que na qualidade de engenheiros somos obrigados a refletir, o quanto nosso aprendizado precisava evoluir. A visão de engenharia sobre a segurança viária estava voltada para rodovias projetadas com vistas a custos, vida útil dos pavimentos especiais e outras demandas, como dotá-las de aumento da fluidez sem prejudicar a segurança e objetivando a proteção da vida, tudo na melhor das intenções, claro, mas estava enganado. Como engenheiro civil, o aumento de fluidez da via nem sempre é a melhor decisão. Quanto maior a velocidade, maior a possibilidade de acidentes”. E completou: “Como eu estava enganado quanto à construção de rodovias”!
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