Repensar a esquerda no Brasil
É preciso repensar todo campo da esquerda brasileira, sobretudo nos seguintes pontos: a falta de autocrítica, a fragmentação oriunda da divergência sistemática em estratégias de organização e luta e a hipocrisia no discurso da solidariedade de classe.
Embora seja crescente o processo de criminalização de organizações políticas e sociais feito pela grande mídia, cabe salientar que a ausência de autocrítica sobre o papel dos partidos e sindicatos tem colocado estes numa crescente descrença e em um profundo distanciamento das camadas populares da sociedade, mais especificamente nós, trabalhadores. Se a política partidária anda em baixa no país, os partidos de esquerda certamente têm sim sua parcela de culpa, porém insistem em negligenciá-la. E, se o número de trabalhadores organizados em sindicatos é cada vez menor, é porque também há problemas na condução e na representatividade destes.
A incapacidade de realizar uma autocrítica digna conduz a um egocentrismo, bem como a contínuos conflitos entre as entidades de maneira que se intensifica cada vez mais o processo de fragmentação da esquerda. Basta lembrar do desmembramento que houve, a partir de 2003, da coligação que levou o PT ao poder e que está presente até os dias de hoje. Em meio a tantos ataques aos nossos direitos através da imposição de reformas que desconsideram a opinião popular e o diálogo, torna-se um desafio estabelecer uma resistência íntegra, pois, no plano estratégico, foram poucas ações que nos levaram a uma convergência de forças, sobretudo sindical. A greve geral do último dia 28 de abril é o exemplo. Impactante na sua realização, mas aparentemente um ponto de interrogação, aos olhos do conjunto dos trabalhadores, no que diz respeito à sua eficácia contra a tramitação das medidas nocivas que avançam sobre nós.
Sem convergência e autocrítica, ocorrem equívocos na organização política e nas pautas de luta, que passam a ser hierarquizadas, resultando no esvaziamento do debate e formação política militante de modo a constituir uma cega disputa de poder dentro destes espaços. Por conseguinte, isso traz uma dificuldade de unificação da classe trabalhadora mediante constantes embates. Assim o discurso da solidariedade de classe beira a hipocrisia, é só analisar como a esquerda trata a defesa de Lula e de Rafael Braga. O primeiro possui amplo apoio militante e jurídico, que lhe são de direito, enquanto o segundo, único preso nas manifestações políticas de 2013 (governo petista) porque portava uma garrafa de desinfetante e que sequer fez parte de quaisquer atos e que nunca foi membro de qualquer entidade ou partido político, enfrenta uma segunda condenação praticamente abandonado pela esquerda tradicional, embora seja um preso político, vítima de um Estado burguês e racista.
Assim sendo, faz-se urgente esse repensar, pois, enquanto ele não ocorre, nós seguiremos rumo ao retrocesso político e à perda de direitos sociais conquistados com muito suor e sangue, advindos das lutas dos trabalhadores.
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