Envelhecer é mesmo um privilégio?
Lidiane Charbel
Filósofa e assistente social
Há 15 anos, resolvi deixar tudo em uma pequena cidade, aqui mesmo em Minas, para tentar a sorte em JF. Vinha para estudar numa grande e renomada universidade. Iniciei minha jornada na filosofia em 2002, findando o curso em 2005. Foi quando comecei a me questionar se era isso mesmo que eu queria.
Foi assim que, em 2007, ingressei novamente na UFJF, já no curso de serviço social. Foi um curso que, aliado à minha formação em filosofia, me fez rever vários conceitos e posicionamentos, muitos deles políticos.
Em 2011, me inseri em uma instituição para idosos. Essa instituição estava iniciando uma nova gestão. Foi a junção desses desafios mais o amor incondicional em fazer o bem e iniciar essa gestão que me fez quebrar vários preconceitos que tinha comigo. Será que envelhecer era algo tão bom? Afinal, ficar velho tem suas desvantagens, que são muitas.
E essa inserção e o novo fizeram de mim uma apaixonada pela questão do envelhecimento. Afinal, entendi, um tempinho depois, que é um processo constante e que todos nós passamos por ele. Essa inserção fez com que eu, no mesmo ano, ingressasse no conselho do idoso. Ficava admirada quando via aqueles conselheiros velhos de guerra dizendo coisas tão profundas e ficava no meu cantinho mentalizando: “Um dia vou falar assim”.
Os anos se passaram, e cá estou eu, presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Idoso. Vivenciando que o desafio não é somente perceber que envelhecer é um privilégio, mas quebrando paradigmas a cada dia. Envelhecer é isso. É descobrir novas possibilidades. É aceitar as mudanças, os limites e, principalmente, os cabelos brancos e as rugas. E parar de negar, porque a sociedade ainda descarta o velho.
Sinto-me privilegiada por conviver com idosos e fazer do controle social algo que permita a efetivação dos direitos dessa parcela que, cada dia, aumenta mais. Sim, envelhecer é um privilégio. Então, vamos nos permitir viver. Vamos nos permitir envelhecer.