Queijo do Reino – uma tradição que se perde

“Será que ainda dá para restabelecer a tradição de produção desse produto típico da região do ‘Pé da Mantiqueira’?”


Por Luiz Antônio Stephan, Bacharel em Comunicação Social e Publicidade e Propaganda, empresário aposentado do ramo de carnes e ex-presidente da Associação Comercial e do Sindicomércio

22/01/2023 às 07h00

O Queijo do Reino foi o primeiro produto industrial do ramo de laticínios do país. Foi criado a partir da segunda metade do século XIX, quando o gado holandês foi introduzido na raiz da Serra da Mantiqueira, atual região que engloba municípios de Santos Dumont, Antônio Carlos, Ewbank da Câmara, Bias Fortes, Lima Duarte e Juiz de Fora, pelo empreendedor português Carlos Pereira de Sá Fortes.

Surgiu baseado no originário “Edam”, introduzido pelo mestre queijeiro Alberto Boeke, um holandês que vislumbrou a região da Mantiqueira como propícia para produção desses queijos especiais. Boecke associou-se a Sá Fortes, resultando, em 1888, na primeira fábrica de laticínios do Brasil, a Companhia de Laticínios da Mantiqueira, com equipamentos importados da Holanda e introduzidos pelos ilustríssimos mestres queijeiros Gaspar Jong, João Kingma e J. Etienne, os quais fincaram raízes definitivas no Brasil. A origem da expressão “do Reino” é atribuída aos produtos oriundos de Portugal.

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Com o tempo, surgiram as fábricas que produziam as marcas “Palmyra” e “Borboleta”, ambas em Santos Dumont, e a Jong, em Lima Duarte, as principais.

Características do Queijo do Reino tradicional: apresenta-se mais seco e firme, de sabor pronunciado e coloração mais intensa, apresentando textura fechada a pequenas olhaduras, ovaladas, regulares e distribuídas.

Os métodos de produção utilizavam o “soro fermento”, princípio ativo da fermentação lática e formação das características (atribuídas a cepas nativas) somadas ao processo de maturação em temperatura ambiente (20ºC a 22ºC), por um período de até 90 dias. Eram produzidos em pequenas fábricas instaladas nas fazendas e enviados às matrizes, nas cidades, onde eram selecionados e embalados. Os especialistas determinavam a qualidade pelo som obtido com batimentos nos queijos e conseguiam estabelecer que os queijos com muitos “olhos” ou buracos eram considerados de segunda ou de terceira e embalados de forma mais simples e vendidos mais baratos. Os sem furos, de primeira, eram acondicionados em latas de folha de flandres muito elaboradas e eram mais caros. O Queijo do Reino era vendido em todo o Brasil, sendo o Nordeste um dos principais consumidores.

Esse produto continua sendo encontrado no mercado, mas, produzido industrialmente, dentro das normas do SIF, mas longe de ter a qualidade e a história daqueles originais.

Será que ainda dá para restabelecer a tradição de produção desse produto típico da região do “Pé da Mantiqueira”? Resgatar a maneira de fabricar artesanalmente e com alta qualidade como era feito em tempos passados?

Seria por meio de uma cooperativa de pequenos produtores com uma central de embalagem, com o apoio da Lei 13.680/18, que cria selo estadual para permitir a comercialização em todo o país de produtos artesanais com origem animal. A região do “Pé da Serra da Mantiqueira” teria sua denominação de origem, ou região demarcada, pois só ali existem as condições geográficas e climáticas para esse queijo poder ser produzido. Geraria muitos empregos e muita riqueza.

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