Dona Maria para ministra da Economia

“Querem consertar a economia no Brasil? Encham o ministério de donas de casa, dessas que enfrentam no dia a dia o sofrimento de dividir com sua prole até o que não têm”


Por José Ricardo Junqueira, jornalista, ex-secretário de Cultura e Turismo de Cataguases

21/12/2021 às 07h00

O ministro Paulo Guedes é um enrolão, um jogador profissional. Está aí a offshore (pode isso, Arnaldo?) que não me deixa mentir. Estão aí a alta do dólar, o desemprego, a inflação de dois dígitos, a economia à deriva. Ademais, ouso dizer, não existe “ciência” econômica. É uma ficção bem escrita por intelectuais a serviço do capital com roupagem de ciência para disfarçar a mais valia de Karl Marx.

Tudo se resume a isto: aos que estão por cima e aos que estão por baixo. Exploração do trabalho camuflada por dogmas, axiomas e equações que não levam a nada, a não ser à acumulação de riqueza nas mãos de poucos. Exemplo: você aplica seu dinheiro no banco e ele dá a você 0,5% de rendimento ao mês – e olhe lá. Mas, se você toma o mesmo dinheiro emprestado, o tal banco te cobra 120% ao ano no cheque especial (10% ao mês). Igualzinho ao agiota ali da esquina.

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A aflição de quem ainda pode consumir é sentida principalmente nos supermercados. Cada dia é um preço. Mas economistas e intelectuais de plantão argumentam que não há outro jeito, pois os preços são regidos pela lei da oferta e da procura. Papo furado. Lei se caracteriza pela obrigatoriedade, é cumprir ou cumprir. Quem obriga o comerciante a subir preços na medida em que a demanda aumenta? Se ele não o fizer, que punição sofrerá? Onde está determinado que ele tem que aumentar? Se é optativo, não é lei. É especulação, ganância. Exemplo de lei? A da gravidade. Se você não cumprir e pular do décimo andar de um edifício se espatifa no chão e morre, e ponto final. Isso é lei.

Sobre os intelectuais, os autênticos, disse o historiador italiano Enzo Traverso que sua imagem pode ser representada por George Orwell com um fuzil no ombro durante a Guerra Civil Espanhola, por Marc Bloch durante a Resistência Francesa na 2ª Guerra Mundial e por Edward Said, professor de literatura pela Universidade de Columbia, lançando pedras contra postos de controle israelenses na fronteira com o Líbano. Para Traverso, o intelectual “questiona o poder, contesta o discurso dominante, introduz um ponto de vista crítico, provoca a discórdia”. Para merecer o título, nossos intelectuais deveriam então problematizar e chamar o povo ao entendimento dos problemas estruturais que afetam a todos e que sob o mais retumbante protesto precisam ser resolvidos; ou nunca teremos um país de verdade; e muito menos intelectuais.

Querem consertar a economia no Brasil? Encham o ministério de donas de casa, dessas que enfrentam no dia a dia o sofrimento de dividir com sua prole até o que não têm. Não ia ter prato vazio nesse país. Não ia ter agronegócio exportando para faturar em dólar enquanto o povo aqui passa fome ou come osso ou pé de galinha. Eu não duvido disso.

Tem milhares de donas “Marias” no Brasil que dariam excelentes ministras da Economia, em substituição ao croupier Paulo Guedes. Podem apostar. Simples demais? Como disse Leonardo da Vinci, “a simplicidade é o último grau de sofisticação”.

Salve, 2022! Que o Natal e o ano novo renovem nossas esperanças.

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