A margarida que gostaria de plantar
Com satisfação, li na Tribuna de Minas, no início do ano, entrevista com a nova prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão. Relatou vários problemas de JF. Alguns bem antigos, outros, não. Morei por 16 anos nesta cidade e tenho ainda um imóvel aqui, localizado perto da Praça do Bom Pastor, bem perto do clube. Participei ativamente da campanha a prefeito do Omar Resende Peres, infelizmente derrotado. Ele possuía em JF, além de um apartamento na Av. Rio Branco, também mais de 50% das ações da TV que é repetidora da TV Globo.
Omar tinha vários planos para essa cidade, alguns possíveis e factíveis, outros, não, porque não dependeria dele, mas de autoridades federais, como o desvio do Centro do município da linha férrea que atrapalha muito o trânsito e leva a outros problemas. Ele é e sempre será um grande idealista, além de empresário realizador. Depois de derrotado nas eleições, desgostou totalmente e resolveu vender, além das ações da TV, seu apartamento em JF e outros bens. Hoje, vivendo e sendo empresário no Rio de Janeiro, diz que só gosta de ver a cidade de JF por cima de avião de vez em quando.
Quando residi no município, participei ativamente dos destinos locais, quando, sem pertencer diretamente das direções, participei como técnico das opiniões dos presidentes da Federação das Indústrias de Minas Gerais, filial da Zona da Mata e do Centro Industrial. Tudo isso como idealista e sem qualquer remuneração. Vivendo em Belo Horizonte como economista e técnico da Cia. de Distritos Industriais de Minas Gerais (CDI-MG), infelizmente extinta pelo ex-governador Fernando Pimentel, escolhemos o terreno e tentamos trazer para Juiz de Fora a fábrica de automóveis da francesa Peugeot. O prefeito e deputados fraquejaram e deixaram esta fábrica ir para o Estado do Rio de Janeiro.
Ela participou ativamente desse processo e fez até sondagens nos terrenos onde poderia se localizar o empreendimento que seria edificado no distrito de Valadares, pouco mais de 12 quilômetros do Centro de Juiz de Fora. Por descaso e falta de empenho político, essa fábrica desistiu de JF e foi se localizar no Estado do Rio de Janeiro. Não é sem razão que a própria Mercedes-Benz chegou até ameaçar fechar em JF e transferir para São Paulo a totalidade de suas operações.
Voltando para a entrevista da nova prefeita Margarida para a Tribuna de Minas, infelizmente, não notei preocupações maiores com o desenvolvimento econômico industrial municipal, até por ver que não existem no município outras boas áreas para a localização de projetos de médio ou grande portes que poderão trazer rendas e empregos. No entanto bons projetos podem se localizar em municípios que se localizam perto da sede municipal, mas, na ausência de locais, poderão contribuir em outras cidades que trarão desenvolvimento para o município sede.
Quando estagiei no Japão, tive a oportunidade de trazer para Minas Gerais várias experiências de localização industrial, como aquelas que ocorreram em Extrema, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Itajubá, Eloi Mendes, etc. A visão do desenvolvimento econômico deve ser sempre regional, e não só localizada em um só município. A Margarida poderia apoiar, por essa razão, o Governo do estado a construir um distrito industrial que se localizaria entre os municípios de Coronel Pacheco e Goianá. Lá, pouco tempo atrás, existiam áreas capazes de construir um DI semelhante à área onde está a Mercedes-Benz. Isso estimularia o desenvolvimento regional, beneficiando muito também Juiz de Fora, por ser um polo regional.
Se Margarida tiver um bom economista especialista em desenvolvimento econômico, poderá fazer muita coisa mais, além de beneficiar famílias desempregadas e a pouca renda local. Desenvolvimento econômico não é só local, mas regional, como sempre fala meu colega Paulo Haddad, ex-ministro de Itamar e que ocupou vários cargos em Minas Gerais. Jesus Cristo, por favor, tenha pena de Juiz de Fora e da nossa região antes que os políticos joguem fora aquilo que ainda existe de bom por aqui. Margarida é uma bela flor, mas, se for descuidada e sem atenção, suas pétalas caem com certeza e, desfolhada, será apenas uma saudade.
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