A violência que oprime
“Combater a violência vai muito além das operações sangrentas com tiros de fuzis. São necessárias ações concretas quanto a projetos sociais que diminuam a desigualdade social”
Não é de hoje que a segurança pública é pauta em nosso país. São anos de discursos vazios e de políticas fracassadas que priorizaram mais a impunidade do que realmente a proteção do cidadão de bem. As cenas de guerra que tomam conta do noticiário são apenas reflexos de um conjunto de reveses políticos que vêm se arrastando por décadas. Reflexo também de um Poder Público que procede de forma criminosa quando o assunto são direitos. É isso mesmo, de forma criminosa. Pois somos vítimas diariamente do crime do descaso político.
É muito fácil para os governantes combaterem a criminalidade usando dos próprios artifícios do crime. Afinal, para eles, bandido bom é bandido morto. Porém esquecem que as transgressões só chegaram ao patamar atual por falta de políticas públicas eficazes. Vivemos em um país que prefere ser retrógrado quando o assunto são drogas. Enquanto parte do mundo enxerga como questão de saúde pública, nossos políticos insistem em uma política arcaica de guerra a elas. Por que não uma discussão séria e com reformas profundas?
Como se vangloriar de uma década da lei “Maria da Penha” – que foi criada para coibir a violência doméstica -, se na realidade ainda não está completa em implementação? Faltam delegacias da mulher; as existentes estão locadas nos grandes centros; e o número de funcionários é insuficiente. Escolhemos ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo. Eu pergunto: e o projeto de lei que aperfeiçoaria as investigações de homicídios cometidos por policiais e que está parado há anos em Brasília?
Optamos, por anos, deixar de lado a educação de nossas crianças e nossos jovens. Renunciamos o que de mais precioso um país pode oferecer ao seu povo. Combater a violência vai muito além das operações sangrentas com tiros de fuzis. São necessárias ações concretas quanto a projetos sociais que diminuam a desigualdade social, possibilitando outros caminhos que não sejam o da criminalidade. Afinal, só teremos trégua nessa batalha quando esse país colocar em prática a reparação da dívida histórica que tem com sua gente.
A violência no Brasil nada mais é que uma reação ao direito roubado, à dignidade perdida, à segregação velada, à negligência do Estado em não conseguir suprir os anseios da população. Não escrevo para defender a hostilidade, a agressividade, a crueldade, a ferocidade, e tantos outros sinônimos da palavra violência. Muito menos me coloco a favor da descriminalização de qualquer tipo de droga, mas devo lembrar que toda ação gera uma reação. E, se nada mudar, continuaremos a enxugar gelo.
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