Dai a César
No momento em que é redigida esta coluna, o Brasil teve o seu pior dia em número de mortos pela Covid-19. Foram 3.146 vidas perdidas na última quarta-feira. Os números de ontem e hoje podem tragicamente ter superado essa marca, visto que parece que estamos apenas no início da pior fase. Não é por menos que o estado e o município ingressaram na etapa mais intensiva de combate à propagação da doença! O que nos choca, se não a todos pelo menos aos que defendem a vida, é ver que ainda há quem negue tamanha gravidade e busque com protestos e desobediências questionar os decretos publicados. O viés político é notório, embora confuso, visto que governador e prefeita estão em espectros opostos nessa seara. É tempo de responsabilizar quem, de fato, é o maior culpado pela dimensão dessa tragédia e os que o apoiaram assumir seu papel de cúmplices.
A doença chegou ao nosso país em plena Quaresma e avança um ano depois, prolongando esse tempo de recolhimento com muita tristeza e perdas em vários lares. Até quando?
O texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica faz críticas à atuação do Governo federal, que “não adotou medidas efetivas no combate à pandemia de Covid-19”, o que “dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”. E denuncia: “Discursos negacionistas sobre a realidade e a fatalidade da Covid-19 são recorrentes, assim como a negação da ciência e do papel de organismos multilaterais”, diz o documento. O texto também critica o comportamento de igrejas que não respeitaram o distanciamento social e mantiveram os templos abertos e promoveram aglomerações, dizendo ser “testemunho de amor o cancelamento de todas as atividades presenciais, como forma de cuidado”.
A essa importante denúncia somaram-se várias outras, e, nos últimos dias, elas se multiplicaram. Na Carta Aberta à Humanidade, religiosos como padre Lancelotti, frei Betto e dom Morelli, juntamente com diversos artistas, políticos e cientistas, disseram que “o Brasil hoje sofre com o intencional colapso do sistema de saúde”. E alertam: “O monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global”.
Só nesta semana, as entidades signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Ordem dos Advogados do Brasil e a Comissão Arns, divulgaram um comunicado em que cobram do Governo de Jair Bolsonaro a adoção urgente de medidas contra a Covid-19, rapidez na vacinação e fim do obscurantismo. O presidente também foi denunciado no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, pela negligência na condução da pandemia do novo coronavírus, somando-se às três denúncias já feitas em cortes internacionais.
Também a Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD lançou um manifesto em defesa da vida em que defende que Bolsonaro seja responsabilizado judicialmente por sua conduta durante a pandemia. E as fundações de sete partidos políticos propuseram uma PEC para afastar Bolsonaro por crime contra a vida. A proposta consiste em incluir no rol dos crimes de responsabilidade previstos no Art. 85 da Constituição Federal as ações que atentem contra a vida, por sabotagem ou omissão, em situações de epidemias e pandemias.
O blogueiro Ricardo Kertzman, colunista da revista Istoé, é a primeira pessoa da chamada imprensa corporativa a fazer sua autocrítica e a pedir desculpas por ter apoiado Jair Bolsonaro: “Deus, o que fizemos? Perdão”.
Dai a César o que é de responsabilidade de César. E assumamos o que é de nossa responsabilidade em defesa da vida!
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