Complexidade da mobilidade urbana


Por José Luiz Britto Bastos, mestre em engenharia de transportes

18/08/2021 às 07h00

“(…) somos hoje uma cidade com a mobilidade urbana seriamente comprometida, já se aproximando do caos se, obviamente, nada for feito no curto prazo”

Nesses quase 170 anos, Juiz de Fora cresceu, mas esse crescimento, percebe-se, foi completamente desordenado. A cidade não recebeu, por parte da maioria dos seus administradores, a devida atenção, ou seja, desenvolveu-se sem planejamento com vistas ao futuro. Definitivamente, não é uma cidade sustentável. Na verdade, o uso e a ocupação do solo por aqui sempre foram eivados de irregularidades.

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Ruas, avenidas e calçadas estreitas subdimensionadas. Vias em que mal cabem um ônibus, calçadas com menos de um metro de largura e, ainda, com obstáculos, degraus e rampas inacessíveis. Mas quem poderia autorizar essas iniciativas erradas e injustificáveis?

Ao longo dos anos, a maioria das autoridades municipais tinha que pensar nas consequências de suas inações quanto ao futuro da mobilidade e da acessibilidade urbanas. As principais vias que cortam a cidade só existem por acaso. Elas foram se formando ao longo do tempo por si mesmas, tal qual colchas de retalhos, sem qualquer preocupação com a necessária e recomendável técnica da geometria exigida pela engenharia de tráfego. O resultado não poderia ser outro: somos hoje uma cidade com a mobilidade urbana seriamente comprometida, já se aproximando do caos se, obviamente, nada for feito no curto prazo.

Há solução? Sim, tem que haver, começando por uma revisão do planejamento viário, aplicando sê-lhe as medidas que se façam necessárias no sentido de melhorar a circulação. Investir pesado para que a cidade tenha um sistema de transporte público de alto nível, confortável, confiável e de qualidade.

Cuidar para que os ônibus trafeguem em faixas seletivas exclusivas. Quem sabe, planejar a reimplantação do sistema troncalizado, que, um dia, por equivocada e irresponsável decisão de um prefeito, foi extinto com apenas uma “canetada”, jogando-se pelo ralo R$ 45 milhões, dinheiro do povo. Na hipótese de não troncalizar, readequar o atual sistema, permitindo o uso de micro-ônibus, sobretudo nos horários entre picos.

Aliado a tais medidas, esse é o momento de pensarmos em outras ações que, de alguma forma, possam desestimular o uso do automóvel, ofertando à população transporte público de qualidade; substituir veículos motorizados por veículos não motorizados; estimular o uso da bicicleta como modal de transporte, assim como caminhadas a pé para pequenas distâncias. Aliado a tudo isso, pensar na possibilidade da implantação do rodízio de placas, restrição e taxação pesada para o estacionamento público nas vias e, até mesmo, na implantação de um pedágio urbano para a área central da cidade!

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