Representatividade da mulher negra
“A necessidade de mostrar às jovens negras e às meninas negras que existem referências positivas para serem seguidas é urgente”
Representando mais de 50% da população brasileira, os negros ainda sofrem as consequências da abolição tardia e equivocada que aconteceu no Brasil. Por isso, podemos afirmar que a verdadeira abolição (cultural e epistemológica) ainda não aconteceu por completo. Isso tudo quando falamos da população negra de um modo geral, entretanto tais consequências são ampliadas quando falamos da mulher negra. Datas como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, não são dias de comemoração, assim como outras datas que se referem à mulher e aos negros. A data é de reflexão, de discussão e de conscientização.
Datas como essas foram criadas para renovar as forças para continuar a resistir numa sociedade tantas vezes racista e misógina. No Brasil, a data também significa o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, o que aumenta ainda mais o compromisso e a responsabilidade da data. Num país onde se observa que a mulher negra se encontra na ponta mais baixa do escalonamento social, é necessário que se façam levantamentos e questionamentos acerca da posição da mulher negra dentro da sociedade, sendo a que menos tem oportunidade de estudar, a que mais sofre violência doméstica e obstétrica e a que mais trabalha informalmente.
Mas a data não é apenas para reflexões acerca da subserviência, mas, sim, principalmente, para dar visibilidade às grandes mulheres negras que resistiram e abriram caminho em vários setores deste país, na educação, na pesquisa, na literatura, na filosofia, na música, na arte e em tantos outros espaços. A necessidade de mostrar às jovens negras e às meninas negras que existem referências positivas para serem seguidas é urgente. Mulheres como Lélia Gonzales, Ruth de Souza, Djamila Ribeiro, Carolina Maria de Jesus, Elza Soares e Conceição Evaristo são nomes importantes de representatividade. Em outros espaços, como na educação, mulheres como a professora doutora Laura Cavalcante Padilha, da Universidade Federal Fluminense, mostram a força da intelectualidade feminina negra, quando é uma das grandes pesquisadoras de literatura deste país, reconhecida mundialmente por seus estudos e seus escritos. Outro nome importante é da professora doutora Aparecida de Jesus Ferreira, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, que se destaca por sua dedicação, sua pesquisa e seus escritos sobre as relações étnico-raciais na educação. Tais nomes são suficientes para entendermos que os tempos de submissão feminina e de opressão acabaram. Uma nova perspectiva levantada pela resiliência da mulher negra é observada a partir de agora.