Fake news: filho(a) da fofoca
Mas a fofoca se “agigantou”, ganhou maturidade tecnológica e se transformou em fake news
Sou de uma época em que existiam os famosos e as famosas cuidadoras da vida alheia, também conhecidos (as) como fofoqueiros (as). O fofoqueiro dizia uma coisa tóxica e quase sempre mentirosa e aumentada de uma determinada pessoa e aquilo se espalhava pelo bairro. A vítima da fofoca tomava conhecimento do teor da maledicência e tinha tempo para se defender, desmentir aquele boato, que não ganhava uma proporção difamatória muito grande. E todo mundo na comunidade também conhecia o autor da fofoca. Em pouco tempo, tudo era esclarecido, resolvido, e a vida seguia o seu curso normal (com a fofoqueira ou o fofoqueiro escolhendo outra vítima para continuar com a sua profissão: a de cuidar da vida alheia).
Mas a fofoca se “agigantou”, ganhou maturidade tecnológica e se transformou em fake news. Hoje, as notícias falsas são projetadas nas redes sociais e, em segundos, o mundo inteiro toma conhecimento de tudo. As vítimas destas fake news não conseguem desmenti-las no mesmo tempo em que elas são divulgadas. E o mais grave: a figura folclórica do fofoqueiro deixou de existir, pois hoje é muito difícil identificar o autor-criminoso da fake news. Pessoas comuns, celebridades, políticos, empresas, etc. são covardemente prejudicados em sua imagem e em sua honra por conta desta disseminação de ódio e de mentiras contidas nestas notícias falsas. É tudo muito rápido, na velocidade da luz.
Que saudade que tenho daquela senhora que ficava na janela e daquele senhor sentado no banco na calçada que produziam as suas histórias falsas. Como eram criativos e maldosos… mas eram amadores. Hoje, a fofoca ganhou fama, se profissionalizou e pode até eleger um presidente de um país. Antes, a fofoca era para desonrar, difamar, etc. As fake news produzem os seus efeitos tóxicos, mas muito bem direcionados, para gerar uma situação favorável ao seu autor-criminoso.
Antes, o fofoqueiro amador era apenas um personagem folclórico, que tinha o seu público fiel e seleto, mas jamais era responsabilizado civil ou criminalmente. Quando muito, era tachado de uma pessoa sem credibilidade. Já a fake news é crime. Se for descoberto, o autor-criminoso, pode ser responsabilizado civil e criminalmente.
A fake news é a filha ou o filho mais velho da fofoca, e revela o caráter fiel de seu autor-criminoso.
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