O poder das big techs


Por Paulo Villela, doutor em Engenharia de Sistemas e Computação e professor

16/02/2022 às 07h00

Já faz muito tempo que os novos mundos são explorados por pessoas e organizações gananciosas, que se aproveitam do vácuo de limites legais para impor seus interesses, tendo como objetivo final enriquecer às custas das desgraças dos mais fracos e desprotegidos. A exploração do continente americano, que ocorreu há mais de 500 anos, desnuda essa prática de barbárie. Os povos indígenas que aqui viviam foram saqueados e dizimados pelos exploradores do “velho mundo”.

Cerca de cinco séculos depois, estamos vivenciando uma nova barbárie na exploração de um mundo completamente novo, o mundo virtual, praticamente sem leis, onde as grandes empresas de tecnologia, as chamadas “big techs”, usam e abusam de nós, pobres mortais. Apreciamos os novos espelhinhos, os apps que esses exploradores nos oferecem “de graça”. Mas toda essa gentileza tem seu preço e será um dia cobrada. Dois exemplos merecem ser destacados, neste momento, para mostrar como as big techs agem.

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O primeiro deles é o Telegram, serviço de mensagens instantâneas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vem tentando, sem sucesso, contatar a empresa para discutir formas de combater as fake news, veiculadas constantemente pelo app. O Telegram não tem representante legal no Brasil e, na sede em Dubai, ninguém responde. A impossibilidade de contato com a empresa impede a entrega de notificações pelo TSE. Em resumo, Telegram se julga acima das leis brasileiras.

O segundo exemplo é o Google, com a sua plataforma educacional “gratuita”, conhecida como “Google for Education”. Oferecendo espaço de armazenamento ilimitado aos usuários, o Google teve acesso facilitado a uma grande parte das universidades públicas brasileiras, dominando os seus respectivos espaços virtuais. Agora que são os principais donos desse novo mundo, querem simplesmente limitar a capacidade de armazenamento, de forma que quem quiser mais espaço do que o estipulado pela empresa deve pagar do próprio bolso.

Para se ter uma ideia da iniquidade, o dono de uma simples lanchonete precisa participar de um processo licitatório e ganhá-lo para obter o direito de se instalar no campus de qualquer universidade pública brasileira. O Google, ao contrário, não precisou passar por qualquer processo burocrático para dominar esses espaços virtuais públicos.

Enquanto não se estabeleçam regras, leis e princípios do que seria agir de modo “fair” no mundo virtual, restam conselhos a dar. Por mais atraente que os novos espelhinhos high tech (apps) possam parecer, use-os com cautela. Não fique dependente de nenhum deles. Diversifique, mude periodicamente. Abandone a zona de conforto que as big techs oferecem. Migre para novas plataformas. Dê prioridade para plataformas abertas. Liberte-se. Aproveite o que as big techs têm para oferecer a você. Mas, sempre que possível, descarte-as para não ficar dependente delas.
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