Nexos de classe social na saúde no Brasil
Estudo recém-publicado na revista Dados investiga, com modelos estatísticos, as relações entre classe social e saúde no Brasil usando dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). O trabalho que elaboramos demonstra que a estrutura social hierarquiza claramente a distribuição da saúde no Brasil. Capital, conhecimento perito e autoridade destacam-se como fontes de vantagens de saúde. As maiores desvantagens de saúde estão associadas às posições de classe destituídas de recursos de valor.
A análise temporal com indicadores de educação e renda confirma uma piora de saúde para todos os grupos no período de 2003 a 2013. Na comparação com o grupo mais privilegiado, que teve na maioria dos casos um pior desempenho proporcional, ocorreu na década certa queda da desigualdade relativa, porém um aumento da desigualdade absoluta entre os grupos.
Classe social mostra-se relevante igualmente ao condicionar o modo e a intensidade com que renda, educação e doença crônica impactam no estado de saúde das pessoas. O topo social de empregos mais privilegiados, por estar no “teto” factível de saúde boa, obtém ganhos adicionais ínfimos promovidos por elevações de renda. Os aumentos de renda, por outro lado, geram potencialmente mais benefícios de saúde na base da estrutura social.
Mudanças educacionais representativas geram alterações absolutas relativamente modestas na saúde. No topo social privilegiado, ocorre o mesmo efeito de teto: quando já se goza de boa saúde, há menos espaço para ganhos adicionais. Entretanto resultados semelhantes, por razões bem diferentes, se manifestam na base da estrutura social. No agrupamento destituído, a probabilidade de ter boa saúde aumenta somente em 4,9 pontos percentuais quando se vai do ensino fundamental completo ao médio completo. Os empregos destituídos parecem estabelecer limites aos ganhos absolutos de saúde que podem ser produzidos por uma alteração educacional representativa.
O estudo constata, por fim, que a exposição a doenças crônicas afeta de modo diferenciado a saúde dos que sofrem destes agravos. Além de ter uma situação pior de saúde, no agrupamento destituído, ocorre um processo mais pronunciado de deterioração absoluta do estado de saúde provocado pela presença de doença crônica.