É tempo de cuidar
“A prática da solidariedade é inerente à vida e aos ensinamentos cristãos como um chamado permanente para olhar as realidades de vulnerabilidade e, principalmente, os necessitados”
A CNBB está realizando em todo o país uma campanha, em conjunto com a Cáritas Brasileira, intitulada “é tempo de cuidar”, uma ação solidária emergencial da Igreja brasileira. “A prática da solidariedade é inerente à vida e aos ensinamentos cristãos como um chamado permanente para olhar as realidades de vulnerabilidade e, principalmente, os necessitados. Não é um olhar de desprezo como o daqueles que passaram pelo caminho e foram indiferentes à dor e ao sofrimento daquele homem que foi atacado por assaltantes, mas um olhar bondoso e repleto de caridade como o que teve o bom samaritano. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc10, 33-34).
Na chamada para a campanha diz o documento: “Estamos diante de uma emergência sanitária global que já afeta mais de 1,4 milhão de pessoas diretamente e já ceifou mais de 80 mil vidas. Nessa grave crise sanitária, que se espalha em uma velocidade acelerada, muitos governos precisaram adotar medidas duras de isolamento social para conter o avanço da pandemia no planeta. No Brasil, do mesmo modo, e por orientação da Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, muitas cidades e estados têm decretos em vigor com restrições de movimentação de pessoas, transporte público reduzido, fechamento de comércios, alguns setores da indústria, restaurantes, órgãos públicos, etc.”.
Na página da CNBB estão todas as explicações sobre o que fazer, individualmente ou como membro de uma paróquia. Cuidados e ações necessários principalmente para atender aos desprotegidos de nossa sociedade. O filósofo Byung-Chul Han, nascido na Coreia do Sul, mas vivendo na Alemanha, escreveu recentemente um artigo no jornal El País intitulado “O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã”. Nele, o autor fala que os orientais estão lidando melhor com o vírus do que os países ocidentais.
“Pois bem, em meio a essa sociedade tão enfraquecida imunologicamente pelo capitalismo global, o vírus irrompe de supetão. Em pânico, voltamos a erguer limites imunológicos e fechar fronteiras. O inimigo voltou. Já não guerreamos contra nós mesmos. E sim contra o inimigo invisível que vem de fora. O pânico desmedido causado pelo vírus é uma reação imunitária social, e até global, ao novo inimigo. A reação imunitária é tão violenta porque vivemos durante muito tempo em uma sociedade sem inimigos, em uma sociedade da positividade, e agora o vírus é visto como um terror permanente”, escreve o filósofo.
Ele termina o artigo de uma forma que completa a campanha da CNBB: “O vírus não vencerá o capitalismo. A revolução viral não chegará a ocorrer. Nenhum vírus é capaz de fazer a revolução. O vírus nos isola e individualiza. Não gera nenhum sentimento coletivo forte. De alguma maneira, cada um se preocupa somente por sua própria sobrevivência. A solidariedade que consiste em guardar distâncias mútuas não é uma solidariedade que permite sonhar com uma sociedade diferente, mais pacífica, mais justa. Precisamos acreditar que após o vírus virá uma revolução humana. Somos nós, pessoas dotadas de razão, que precisamos repensar e restringir radicalmente o capitalismo destrutivo, e nossa ilimitada e destrutiva mobilidade, para nos salvar, para salvar o clima e nosso belo planeta”. É tempo de cuidar.