O ‘invisível essencial’ em tempos de isolamento

“Caros leitores, já perceberam ou vivenciaram situações em que num determinado lugar um surdo chega e não consegue ser compreendido?”


Por Gabriel Pigozzo Tanus Cherp Martins, tradutor Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (UFJF)

14/05/2020 às 06h01

Coronavírus é o mesmo que Covid-19? Álcool em gel 70% ou água sanitária? Uso máscara ou não? Como é transmitido? Isolamento social? Esse vírus foi criado ou não em laboratório? Algumas dúvidas que para nós ouvintes são sanadas facilmente, para os surdos, não, pois não há acesso em Libras dos meios de comunicação.

É fato que os meios de comunicação não promovem a acessibilidade comunicacional, ou seja, a inserção de janelas de Libras em suas programações e telejornais. Isso acarreta enormes prejuízos à comunidade surda, uma vez que não tem acesso às orientações e às informações necessárias a respeito do que está acontecendo no mundo.

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Neste momento, surge um profissional que passa grande parte de sua carreira, de seu cotidiano, na invisibilidade. Esse profissional é o Tradutor Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP). Qual TILSP nunca se sentiu invisível? Todos que conheço e com quem já conversei sobre o assunto em algum momento se sentiram assim. Ruim, não é mesmo?

Caros leitores, já perceberam ou vivenciaram situações em que num determinado lugar um surdo chega e não consegue ser compreendido? Horríve, não é? As pessoas ficam de “cabelo em pé”, desesperadas, constrangidas, envergonhadas por simplesmente não saberem se comunicar. E o surdo, por mais uma vez em sua vida… Passado o episódio, tudo retorna ao normal, como se aquele sujeito de direitos nunca tivesse entrado naquele lugar.

Mais uma vez é necessária a intervenção do intérprete de Libras, esse profissional “invisivelmente essencial” que, com suas mãos, ajuda a construir pontes linguísticas entre surdos e ouvintes e a diminuir as barreiras de comunicação/informação.

Sim! Gostaria de usar este espaço para destacar e parabenizar o trabalho dos TILSP de todo o país, em especial meus colegas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que estão tornando diversos conteúdos sobre a Covid-19 acessíveis à comunidade surda brasileira, bem como a sinalização de aulas e produção de materiais para graduação e pós-graduação das diversas universidades brasileiras, mantendo os surdos atendidos em suas vidas acadêmicas e cientes da situação pandêmica. Ah, agora até nas lives!

São inúmeras horas de trabalho remoto buscando informações, estudando, criando estratégias para traduzir, interpretar, editar e publicar esses conteúdos (além de terem que dar conta das atividades da rotina em meio ao trabalho home office – casa, família, alimentação, filhos, estresses neste momento delicado que todos estamos experenciando). Um trabalho que exige muito de todos.

Acessibilidade é, por mim compreendida, como a quebra de barreiras e o uso dos diversos aparelhos sociais (arquitetônico, urbano, comunicacional etc.) com segurança e autonomia por qualquer indivíduo. E por isso estes profissionais são visivelmente essenciais.
Parabéns a todos os TILSP de todo o país. Nós temos realizado um trabalho maravilhoso, digno de muitas palmas, reconhecimento e, agora, “visível”.

PS.: que esta visibilidade não se esvaia depois da pandemia…

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