Lições da Chape


Por Tribuna

13/12/2016 às 07h00- Atualizada 13/12/2016 às 08h33

José Anísio Pitico da Silva

Assistente social

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“A solidariedade e a compaixão apresentadas pelo mundo do futebol me fizeram acreditar na força desse esporte”

O futebol explica o mundo. Não. O futebol pode salvar o mundo. É o que percebi e senti (chorei, sim) diante das transmissões televisivas levadas à exaustão, na semana passada, por conta da tragédia que aconteceu com o time da Chapecoense, carinhosamente adotada por todos nós de Chape. A solidariedade e a compaixão apresentadas pelo mundo do futebol me fizeram acreditar na força desse esporte. Eu já sabia, mas extrapolou as linhas da pequena Chapecó, no Estado de Santa Catarina.

Por outro lado, tivemos momentos intermináveis de choros, lágrimas, exageradamente colocados em nossas casas e em nossos corações, combalidos demais pelo desastre aéreo de Medellín. Considero, como muitos interlocutores das redes sociais, que houve um exagero na exposição pública dos sentimentos dos familiares e amigos que perderam seus entes queridos, mostrados em todos os ângulos nas câmeras das TVs. A espetacularização da dor humana, o que torna a vida, como a morte, um simples detalhe. E não são.

Sempre achei que o futebol é mais do que um esporte e está longe de ser o ópio do povo, assim como algumas religiões. São mecanismos sociais e políticos de controle social e ligados a interesses de terceiros, no intuito da dominação capitalista/econômica do mercado da bola e do reino dos céus. Futebol e religião formam uma boa tabelinha na exploração de alguns grupos sociais e pessoas.

Passado um pouco esse período de consternação nacional e mundial, poeira abaixando, me vêm à cabeça algumas ponderações e reflexões trazidas pela história da Chape. Acredito que, para os que viveram essa realidade, a memória nunca deixará de registrar o sofrimento presente na alma dos familiares e amigos. Que lições a Chape nos oferece com a tragédia? Penso que a cidade podia investir mais no futebol, no esporte, de um modo geral. Mas não investe. Por quê? Se, pelo futebol, podemos mudar o mundo, como nos mostrou o povo de Chapecó, comecemos, então, a mudar a nossa cidade, mudando a nossa relação com o futebol.

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