Alimentação colonizada


Por Tribuna

13/09/2017 às 07h00

Por Débora Fajardo, Da organização da feira “É Daqui” – Alimentação Inclusiva & Orgânicos

O Brasil nunca foi um grande produtor de trigo. Essa planta nem é nativa daqui. O país importa cerca de metade do que consome. Mas os brasileiros ingerem trigo da primeira à última refeição do dia. Ele está no pão do café da manhã, no biscoito do lanchinho, nos bolos e nas tortas, em salgados e doces, na pizza, no macarrão e onde mais a culinária alcançar: empanados, ensopados, à milanesa. O trigo reina absoluto nas cozinhas e nos restaurantes brasileiros.

Em função desse hábito, os alimentos nativos foram relegados. A mandioca, o “pão” dos bandeirantes, foi o sustento das expedições que adentravam o país na expansão colonial. O inhame, por seu alto poder depurativo, garantiu às tribos indígenas a proteção contra a malária e outras doenças tropicais, além de alimentá-las. A araruta crescia farta em quintais e fazendas. A riqueza natural do Brasil é invejável. Temos quatro safras por ano; colhemos em todas as estações. Os Estados Unidos, país mais rico do mundo, têm duas safras anuais – quando a neve deixa. Senão é uma só.

PUBLICIDADE

O descompasso entre o que a natureza nos dá e o que de fato comemos tem também consequências econômicas. O dinheiro que poderia ficar aqui vai pagar o trigo fora e enriquecer outros países. E isso não é tudo. O mundo ocidental vivencia uma onda de restrições alimentares relativas ao glúten, ao leite, à soja, entre outros. O livro “Barriga de Trigo”, best-seller nos Estados Unidos, explica que as modificações genéticas introduzidas no trigo não foram testadas de modo satisfatório e seguro na alimentação humana, e o seu consumo excessivo pode provocar muitos danos.

Este é um tema desafiador, pois esbarra em interesses econômicos poderosíssimos. Contudo não é possível fechar os olhos ao que ocorre à nossa volta. O Brasil tem infinitas possibilidades alimentares, não só para matar a fome do seu povo, como para vender o excedente a quem precisa. Mas é preciso, antes, descolonizar a mente dos brasileiros.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.