Por que estudar teorias?
Flavio Trentin, bacharel em administração de empresas e professor na área de humanas
Estava eu, em uma das minhas aulas, quando fui surpreendido com a seguinte pergunta de uma aluna do curso de bacharel em Ciências Contábeis: “Professor, por que temos que estudar tanta teoria, acontecimentos dos séculos 17, 18, 19 e 20 na faculdade? Não seria melhor ir direto à prática, abordando assuntos do nosso dia a dia?”. Antes da minha resposta, vamos explorar mais sobre este assunto.
Está cada vez mais explícita para muitos brasileiros, e principalmente aos estudantes do ensino superior, a falta de interesse por um mergulho profundo no mundo das ideias, e isso reflete tanto no cotidiano acadêmico como na vida profissional do trabalhador. É fácil notar a quantidade de profissionais no mercado de trabalho produzindo cada vez menos. O preguiçoso estudante de hoje é o péssimo profissional de amanhã.
Diante dessa circunstância, pergunto eu: o que seria dos estudantes ou profissionais formados e bacharelados na área de humanas, exatas ou principalmente em saúde sem os conceitos teóricos e científicos estudados e publicados no passado? Consegue imaginar um trabalho de conclusão de curso ou livro de pesquisa sem referência bibliográfica? De fato, um estudante sem teoria é como piscina sem água ou avião sem asa. Não faz sentido algum.
Galileu Galilei, filósofo italiano, é reconhecido até hoje como pai da ciência moderna. Isso se deve ao fato de ele fazer experiências para tentar comprovar suas teorias.
Boas teorias permitem tanto ao estudante quanto ao profissional compreender melhor a forma de executar as tarefas ou simplesmente na tomada de decisão. É como usar óculos para corrigir a visão das coisas. Aliás, presumo que seja falsa a ideia segundo a qual teoria e prática pertencem a dimensões diferentes. A teoria e prática estão num plano horizontal, portanto se equivalem em importância, além de se afetarem mutuamente.
Podemos citar grandes pensadores que hoje são referências e base de estudo nos cursos das universidades e faculdades; por exemplo, no mundo da psicologia, como não falar de Sigmound Freud? Quando jovem, os escritos de Goethe e as teorias de Charles Darwin o inspiraram a estudar e desenvolver ideias como a teoria que procurava descrever a etiologia dos transtornos mentais, também o desenvolvimento do homem e de sua personalidade, além de explicar a motivação humana.
Não podemos nos esquecer de Alberto Santos Dumont, sempre lembrado nos cursos de engenharia, que utilizou, dentre tantas, as teorias de Thomas Edison. O que seriam desses homens sem um alicerce teórico? Será que eles teriam o mesmo sucesso sem estas influências?
Boas ideias nascem do plantio das teorias estudadas. Pessoas de diferentes áreas da sociedade, sem estes conhecimentos especulativos e sintéticos, comprovados e aprovados pela ciência, têm prazo de validade no mercado de trabalho, pois suas ideias, suas opiniões, seus projetos, seus diagnósticos são completamente rasos, não causam efeitos e vivem na perpétua mediocridade.
Ah, sobre a pergunta da aluna no primeiro parágrafo, respondi com todo o cuidado do mundo que o papel da universidade ou da faculdade, além de oferecer um conteúdo mais atualizado possível, é preparar o aluno para o mercado de trabalho, demonstrando com teorias e práticas. Mostrei que todo profissional bacharelado em qualquer curso de ciência que ele escolheu como profissão é contratado para raciocinar, pensar antes mesmo de executar qualquer serviço prestado. Aquecer e alongar antes de começar a correr ou praticar um exercício físico é fator determinante para não se obter uma lesão, e isso foi assunto de muito estudo teórico, há décadas, nos cursos de educação física para se chegar a esta conclusão.
Estudantes, portanto, desfrutem das teorias para que não se frustrem na vida profissional. Agora, você, profissional: volte a ter o prazer de se alimentar com estudos científicos para, enfim, ter mais coragem nos desafios da vida pessoal e profissional.
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