A desordem e o regresso

“A permanecer a atual Constituição de 1988, os chamados golpistas deveriam pensar mais no Brasil no lugar do que eles querem para seu grupo de seguidores”


Por José Eloy dos Santos Cardoso, Professor e jornalista

12/01/2023 às 07h00

Até parece que os bolsonaristas estão querendo mudar as palavras “Ordem e Progresso” estampadas no centro da bandeira brasileira para “Desordem e Regresso”. Ao não aceitarem o resultado das últimas eleições, que deram a vitória ao candidato Lula, os chamados apoiadores de direita deveriam, na próxima legislatura, que se iniciou dia 1º de janeiro de 2023, tentar, no lugar de protestos, convocar uma nova Constituição.

A permanecer a atual Constituição de 1988, os chamados golpistas deveriam pensar mais no Brasil no lugar do que eles querem para seu grupo de seguidores. Inviabilizado o tráfego e o direito de ir e vir garantido na Lei Máxima atual, eles estão provocando danos, alguns deles irrecuperáveis, como o tráfego de alimentos e remédios para as farmácias e os hospitais e até o envio daqueles que já não estão entre os vivos para serem enterrados nos respectivos cemitérios entre as cidades e os estados com os bloqueios realizados.

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O motivo atual é bem diferente do que ocorreu em 1964 quando os militares tomaram o poder. Em 1964, o motivo de os militares ficarem no poder era evitar o possível comunismo. Naquele ano, a tomada do poder contou com amplo apoio da população. Parte da população rezava com o terço na mão pedindo que o comunismo não prosperasse.

Nessas eleições de 30 de outubro último, como já indicavam as pesquisas de rejeição, Lula teve 60.345.999 votos, e Bolsonaro, 58.306.354. De nada valeu o enorme gasto financeiro feito para reeleger o atual presidente brasileiro. Como o atual presidente da República foi rejeitado pela maioria da população, as Forças Armadas Brasileiras, compostas por Exército, Marinha e Aeronáutica como guardas da Constituição, não devem tomar o poder em benefício do atual presidente e de sua ideologia de direita.

Uma prova disso é que as Forças Armadas estão deixando que os estados e os municípios procurem resolver a situação de bagunça nos âmbitos federal, estadual e municipal. As Forças Armadas não deverão intervir em benefício do ex-mandatário da Nação, que beneficiará um grupo contra o que deseja a maioria da população já expressa nas urnas. Mesmo não sendo um militar, me lembro muito bem de meu curso feito na Associação dos Diplomados da Escola Militar de Guerra, que “proclama que a ordem e o progresso devem sempre existir e prevalecer”. Essa é a regra. Quaisquer desvios contra o que está escrito na Constituição Brasileira de 1988 não contarão com o necessário apoio das Forças Armadas. Em uma democracia, deve sempre prevalecer as opiniões da maioria da população. Assim falou a população brasileira, que se expressou por meio do voto livre e pacífico das últimas eleições.

A Constituição, em seu texto, diz que “todo o poder emana do povo e exerce por seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

O apoio ao novo presidente brasileiro veio de todo o mundo, a começar pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que ligou para parabenizá-lo. Além dele, o apoio veio de toda a América Latina, da Europa, da Rússia, da China, do Japão e de outros países asiáticos. No mundo atual, nenhum país consegue sobreviver sozinho. A economia do hoje em dia é mundial, e todos os países vivem da cooperação mútua indispensável.

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