Raymundo Mendes e a Câmara de JF


Por Daniel Giotti de Paula, escritor e professor

11/01/2022 às 07h00

Engana-se quem pensa no nome de um vereador ou de uma vereadora, das mais variadas legislaturas, quando se quer associar alguém à Câmara Municipal de Juiz de Fora.

O melhor nome que pode vir à cabeça é o do “seu Raymundo da Câmara Municipal”, como ficou marcado em um samba do compositor Lupércio da Empav, homenageando Raymundo Nonato Américo Mendes, por seus relevantes serviços prestados à cidade.

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Raymundo foi servidor da Câmara por 59 anos, tendo lá começado como contínuo em 1º de setembro de 1961, nomeado pelo ex-presidente da Casa, Dr. Godofredo Baziliço Botelho. Está há dois anos aposentado, mas guarda na memória muito da história mais recente de Juiz de Fora.

O jovem de 23 anos, ao se aproximar dos 26, viu o golpe militar em 1964 levar à cassação de quatro vereadores da cidade, “Francisco Pinheiro e Jair Rehins, [que] nem sabiam nada sobre comunismo; e dr. Peralva e dr. Nery de Mendonça, [que] tinham pouquíssimo conhecimento sobre o assunto”, nas palavras do seu Raymundo.

Sentiu na pele os reflexos daquele momento em Juiz de Fora, pois ele e mais alguns servidores tiveram que depor no Exército, acusados de subversivos, tudo porque tinham assinado um documento que pensavam ser para formar um time de futebol e, na verdade, era para selecionar guerrilheiros.

Também presenciou mudarem a regra de que o vereador mais votado seria o presidente da Casa quando uma mulher foi a campeã de votos na cidade.

Sabe e presenciou casos pitorescos, como o do vereador punido por 40 dias por ter feito xixi no corredor ao lado do Plenário e o do primeiro título de cidadão honorário da cidade, oferecido para “uma pessoa que morava fora do Brasil e só passou por aqui de avião com destino ao Rio, nunca tendo pisado em Juiz de Fora”.

Por muito tempo, foi assessor dos presidentes da Câmara Municipal, conhecendo de cor o regimento da Casa e sendo a memória-viva das leis aprovadas no Município.

Mesmo antes de promover a indexação das leis da cidade, durante a gestão do ex-presidente Paulo Rogério, vez ou outra o sr. Raymundo alertava aos vereadores e às vereadoras sobre projetos que repetiam leis já existentes.

Além desse conhecimento técnico, sempre envolto na política, advertiu alguns vereadores de que, caso projetos de lei que encabeçavam fossem aprovados, poderiam perder as próximas eleições. E a sabedoria do sr. Raymundo foi comprovada com a não reeleição deles.

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Formalmente, ele já possui todos os títulos e as honrarias que um juiz-forano pode receber – Comendador Henrique Halfeld, Mérito Barbosa Lima, Cidadão Benemérito -, mas o povo de Juiz de Fora não deve se cansar de lhe dizer muito obrigado e o honrar como o título de “Senhor Câmara Municipal de Juiz de Fora” para esse homem que ajudou a construir as coisas boas de nossa querida cidade.

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