O pandemônio na pandemia e na educação
O mundo foi pego de surpresa no final de 2019, a despeito de a ameaça de uma pandemia ser bem conhecida, sobretudo devido à facilidade de deslocamento a nível planetário. Em outros períodos, epidemias se converteram em pandemias e ceifaram milhões de vidas, como é o caso da peste negra, que, oriunda da Ásia, assolou a Europa e o Norte da África na baixa idade média.
Partindo da China e devastando a idosa Europa, o novo coronavírus, cuja origem ainda divide os cientistas, se alastrou pelo mundo e chegou ao Brasil, que está demonstrando todos os dias um despreparo enorme para lidar com o problema. Em meio a sucessivas crises políticas e a um bombardeio de fake news, a população, sobretudo a mais pobre e ignorante e, justamente por isso, a mais suscetível a acreditar em notícias falsas e em superstições medievais como uma cura milagrosa, fica à mercê de um desgoverno que, em vez de mobilizar esforços para combater a pandemia, procura inimigos imaginários e afronta as instituições e a própria democracia.
E, nesses tempos incógnitos, nós brasileiros tivemos nossas rotinas radicalmente modificadas. A necessidade de isolamento social, preconizada por todas as democracias do mundo e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e desdenhada pelo Governo federal brasileiro, nos instilou a necessidade de nos adaptarmos a um novo contexto. Em meio a incertezas, ansiedade e desespero, tivemos que criar mecanismos psicológicos e práticos para continuarmos vivendo e buscando o nosso sustento. A crise econômica, preexistente, foi agravada pela suspensão de uma série de atividades, gerando desemprego e insegurança para milhões de brasileiros.
No magistério, o ambiente de trabalho é um dos mais propícios à propagação do vírus, haja vista dezenas de pessoas interagirem em um espaço restrito e, muitas vezes, fechado (caso de escolas particulares que possuem salas de aula sem janela e com ar-condicionado). Apesar desse quadro, uma parcela da sociedade e os sindicatos patronais das escolas em todo o país cobram a volta às aulas, com base em protocolos de segurança sem a menor comprovação de eficácia e enfatizando, invariavelmente, a segurança dos alunos. Não se fala dos professores e outros profissionais da educação, muitas vezes idosos ou acometidos de comorbidades e que correm efetivo risco de morte. O desprezo pela nossa profissão fica claro através da nossa invisibilidade social.
A esse cenário acrescentem-se as outras incertezas apontadas acima, e fica patente que o profissional da educação – e não só ele – está em meio a um pandemônio causado não só pela pandemia, mas também pela politização do debate e pela inércia do Governo, que há meses não tem um ministro da saúde efetivo e especializado. Por outro lado, nossas crianças e nossos jovens terão uma lacuna acadêmica, que, certamente, não será totalmente preenchida com o trabalho remoto.
Assim, uma vez mais, nos bastidores e com um suporte limitado, aquele que é o mais importante segmento para o desenvolvimento de um país, a educação, cambaleia, tentando resistir a mais um projeto histórico de desmonte, agora com um ingrediente a mais, trazido pelos desafios impostos pela pandemia. Com afinco, dedicação e acreditando na educação como transformadora e emancipadora da sociedade, continuamos nossa caminhada na busca incessante do conhecimento.
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