O mito sobre o Dia das Mães

(…) ainda precisamos caminhar muito na compreensão de que um filho pertence à família e não apenas à mãe, todos podem e devem cuidar da mãe e da criança.


Por Ana Cláudia Carvalho, Docente do curso de psicologia da Estácio e mestra em psicologia

10/05/2022 às 07h00

O Dia das Mães pode estimular tanto sentimentos positivos quanto negativos nas pessoas, com base nas nossas vivências relacionadas à data. É importante refletir como para muitos o dia das mães se tornou uma única data reservada para agradecer e valorizar as mães: o que ela representa nos dias de hoje.

Ainda que a data possa representar, para muitas pessoas, um momento de fortalecimento de vínculos familiares, para outras, pode acarretar sofrimento emocional, por aproximá-la de lembranças dolorosas e de cobranças sociais. Atualmente, nas redes sociais, facilmente comparamos o fragmento que vemos da vida do outro e comparamos com a totalidade das nossas vivências. Essa comparação é injusta conosco e pode trazer adoecimentos emocionais.

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O Dia das Mães pode representar, para muitas pessoas, um contato com lembranças difíceis e dolorosas. Essa data não deve ser um peso para quem não consegue celebrá-la, e é preciso compreender a singularidade de cada pessoa, acolher e jamais julgar.

É importante lidar com esse sentimento e fazer com que ele não afete mais a vida pessoal. O mais indicado é que a pessoa evite comparações ou até mesmo se force a celebrar essa data como outros. Além disso, é necessário entender quais pensamentos, sentimentos e emoções estão relacionados a essa vivência. A psicoterapia, por exemplo, pode ajudar e muito a ressignificar lembranças e situações difíceis que não conseguimos lidar. Ter saúde emocional não significa ausência de vivências dolorosas, mas aprender a lidar com elas a partir do autoconhecimento.

Amamos os nossos filhos, mas nem sempre gostamos do que representa a maternidade real, bem diferente daquela que estamos acostumados a ver nas redes sociais. A maternidade não deve ser romantizada, são inúmeras as renúncias, o cansaço, as múltiplas tarefas, as autocobranças e as cobranças da sociedade.

Mesmo com a pressão, não é impossível se livrar desses estigmas que podem se tornar negativos. Existe um luto que nem sempre conseguimos lidar em relação à mulher que fomos e que deixou de existir. Outra mulher nasce quando tem um filho, no entanto, as cobranças aumentam, os papéis sociais são acrescentados: ainda precisamos caminhar muito na compreensão de que um filho pertence à família e não apenas à mãe, todos podem e devem cuidar da mãe e da criança.

Este estigma social que precisa ser combatido de que a mãe precisa continuar a ser aquela que consegue equilibrar muito bem todos os seus papéis sociais. Ainda precisamos caminhar muito a respeito do que a sociedade compreende sobre o que é ser mãe e o que é ser pai. Se existe uma mãe exausta, possivelmente existe um pai que não está fazendo o seu papel. Infelizmente, ainda é comum vermos mães sobrecarregadas e pais ausentes da vida com os filhos. Além do mais, combater a romantização da maternidade é muito essencial, bem como compreender que podemos ser mães.

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