É tempo de guerreiros de máscara

“É chegado o momento de vestirmos máscaras, diferenciando–nos pelo sinal da virtude do cuidar”


Por Eder Lima Moreira, cientista social

10/05/2020 às 06h57- Atualizada 12/05/2020 às 16h38

Aos falsos, hipócritas, demagogos, sempre foi sugerido: “Tirem essas máscaras, mostrem quem realmente vocês são e digam ao que vieram!”. Aqui são características da dissimulação, da aparência enganadora ou de um disfarce. Agora, em meio à Covid-19, com números de guerra, expressões assim se invertem para darem sentido à humanidade que precisamos resgatar em nós e nos outros. É chegada a hora de pedir: “Coloque essa máscara”, como quem pede “por favor, ajude no salvamento da humanidade”, ou ainda “seja responsável, abrace a humanidade”.

Quem não a coloca, mesmo vendo o crescimento de funerais que fazem com que as pessoas engulam rapidamente a dor, sem prazo para velórios, assistindo a tudo isso, está, sim, ajudando a matar (é duro, mas é isso, sem meio-termo). Quem não usa esse acessório simples, recomendado por “caciques” e especialistas, ao sair de casa de “cara lavada”, está se fantasiando de agente mortífero ou covarde na luta, vestindo, assim, o pior dos disfarces: o da cruel irresponsabilidade. Basta observarmos o presidente da República, um exemplo disso, que explicita sua frieza e sua perversidade ao sair sem máscara, participar e incitar aglomerações e, diante do número estarrecedor de mortes, ainda expele pela boca um “e daí? O que posso fazer?”. O atual combate exige que não sejamos da “tribo” dos sem-máscara!

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No dicionário Aurélio Século XXI, máscara tem como primeiro significado “objeto de cartão, pano ou madeira, que representa uma cara, ou parte dela, e destinado a cobrir o rosto, para disfarçar a pessoa que o põe”. Notem: “Disfarçar a pessoa que o põe”! No contexto atual, contudo, de pessoas sofrendo e estruturas de saúde em colapso, perambular pelas ruas sem uma dessas expõe alguém que, no mínimo, não pensa no próximo. Colocando esse objeto, portanto, não haverá disfarce da pessoa que o põe, haverá clareza e escancaramento sobre a sua escolha, somente sua, frente a uma calamidade pública que deixa claro que o acessório é fundamental, é vital!

Somos instados pelo número de mortos – agora mais de nove mil – e pelos batalhadores da linha de frente da saúde a olharmo-nos no espelho e, de máscara, dizermos a nós mesmos: “Estou pronto para ajudar nesta guerra”; ou, como um índio quando pinta o rosto, na maioria das vezes para a guerra, e representa para quem o enxerga aquele que vai honrar a sua etnia: seus irmãos. Nossa etnia hoje é a humanidade! Com todo respeito, não ter clareza disso é contribuir para a escuridão do luto!

Se há “homem-branco”, poderoso, com faixa presidencial que não dá o exemplo, sejamos nós os atuais Tupi, Macro-jê, Aruak e Karib do Brasil. É chegado o momento de vestirmos máscaras, diferenciando-nos pelo sinal da virtude do cuidar, como quem pinta o rosto para a batalha e, assim, marca o corpo e se identifica como um guerreiro honrado, referência para “curumins”, futuras gerações, e que pode bater no peito e dizer: “Atendi ao chamado, vou salvar o meu povo!”.

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