JF de ontem e de hoje


Por Tribuna

08/08/2017 às 07h00

Paulo Roberto de Gouvêa Medina, Advogado e professor emérito da UFJF

A leitura de crônicas recolhidas de velhos jornais ou de páginas de recordações contidas em livros antigos dá-nos uma visão do que era Juiz de Fora ao seu tempo. É o caso de um trecho, aparentemente banal, de Joaquim de Salles, jornalista e político mineiro da República Velha, no volume de memórias em que fala de sua infância e formação, transcorridas entre o final do século XIX e o começo do século XX. Aludindo ao casamento de uma irmã mais velha, conta que seu futuro cunhado, tendo ficado noivo, “partiu com destino ao Rio para arrumar o enxoval. Contudo, em Juiz de Fora, encontrou tudo o que queria, e assim fez, na chamada ‘Manchester Mineira’, a sua provisão” e retornou, feliz, ao Serro, onde a família residia. Eis um testemunho do que representava o comércio da nossa cidade, à época, em relação às demais cidades do estado.

Na mesma linha de reconhecimento do papel de Juiz de Fora no cenário econômico nacional, escreveu, na década de 1930, José Maria Belo (também político e jornalista da Primeira República, último governador eleito, mas não empossado, de Pernambuco, antes da Revolução de 1930, que foi, ademais, conceituado historiador) sobre a necessidade de prepararmos “urgentemente a nossa independência econômica”, de forma que, por todo o país, se estendesse a riqueza industrial de Bauru e Juiz de Fora. Nas memórias de Rodrigo Otávio, eminente professor de direito e antigo ministro do Supremo Tribunal, ganha destaque a imprensa juiz-forana.

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No capítulo dedicado ao amigo Raul Pompéia – o desditoso autor de “O Ateneu” -, recorda que este, nos seus últimos anos, já afastado da vida literária, escrevia sobre temas de política para jornais de São Paulo e de Juiz de Fora. No mesmo livro, o memorialista fala, amplamente, do Museu Mariano Procópio, obra de outro amigo e contemporâneo de faculdade, em São Paulo, Alfredo Ferreira Lage.

Essas referências à pujança econômica e à efervescência cultural de Juiz de Fora, feitas por escritores que nenhum vínculo possuíam com a cidade e sem que o tema das respectivas páginas a tivesse como foco, constituem testemunhos espontâneos da posição que ela alcançara, no contexto nacional, ao lado dos centros mais adiantados do país.

O que se poderia esperar, hoje, de páginas do mesmo gênero? Antes de tudo, que se ocupassem da cidade, o que já não acontece com igual frequência. Se o fizessem, certamente, haveria de ser para louvar o papel desempenhado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, sua principal referência, na atualidade. No plano econômico, porém, seria improvável qualquer menção, a não ser da parte de quem se pusesse a cantar o nosso hino, repetindo, nostalgicamente, os versos que a proclamam como sendo, das cidades brasileiras, a mais industrial…

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