O processo: o caso do Museu Mariano Procópio


Por Marco Delgado, Engenheiro, doutor em planejamento e apreciador do Museu Mariano Procópio

07/11/2021 às 07h00

Eis que se fez “O Dito e o Feito” quando, na terceira audiência pública promovida pela Câmara Municipal sobre a gestão do Mapro, o mediador da mesa de diálogo manifesta que não houve consenso. Porém, ao arrepio de uma conduta imparcial, esse subordinado da atual mandatária do poder executivo municipal profere sua inclinação pela proposta de sua chefe. Em síntese, de forma acachapante, a tese da mediação kafkiana desse processo foi coroada.

A mencionada audiência pública revelou volições subliminares de alguns dos autodeclarados intelectuais que subscreveram a carta que incitou o Poder Executivo municipal a instaurar a invectiva contra o modelo de gestão publicamente registrado por Alfredo Lage para o Mapro. A celeuma posta pode comprometer o futuro do Museu como patrimônio público. Algumas manifestações dos autodeclarados intelectuais foram emocionantes. De fato, eruditos e fazendo uso do beletrismo, eles revolveram as memórias afetivas de todos os que já passearam e apreciaram o Mapro em sua plenitude material e imaterial. Entretanto, após o estiolar de uma lágrima, o encanto se desfez, e o racional me alertou: qual o nexo causal de criar assento para membros da academia na proposta da nova Comissão Diretiva para que o Mapro retorne à sua plenitude de outrora e, ainda, para seu engrandecimento? Que “varinha de condão” é essa?

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Observando e analisando outras manifestações dos autodeclarados intelectuais, pude reparar uma estranha impostação daqueles que se apresentavam tendo ao fundo grandes estantes abarrotadas de livros como se fossem troféus e armas de guerra compatíveis aos respectivos discursos beligerantes e às aturdidas expressões corporais.

Objetivamente, alegaram que Alfredo Lage deixou “desejos” em sua procuração pública de doação. Ora, imaginem como estaríamos, no atual contexto político, se essa simplória interpretação de textos jurídicos valesse aos dispositivos dos direitos fundamentais contidos em nossa Constituição Federal? Outro autodeclarado intelectual cometeu ato falho ao revelar o que almejava, de fato: “Na casa do povo, celebrar virada de mesa”. Ora, temos a confissão de quem jamais sentou-se à mesa para um franco diálogo de mediação. Por fim, para não provocar esgar ao leitor, a mais deprimente foi a menção de que Alfredo Lage estaria ao lado dos irresignados. Isso é, no mínimo, um desrespeito e falta de empatia aos familiares do filantropo, que, inclusive, já se manifestaram contrários ao cerco revelado.

Dito isso, um novo capítulo se descortinou recentemente: a decisão da Justiça ratificando que a administração pública somente pode fazer o que a lei lhe permite. De fato, a Lei Municipal 10.998/05 é clara, e a atual administração municipal está agindo à margem da legalidade. Por isso, a decisão da Justiça foi precisa e taxativa ao dar dez dias para que a prefeita selecione o diretor do Mapro a partir da lista tríplice oferecida pelo Conselho dos Amigos do Museu e, assim, que se restabeleça a ordem.

Josef K, o protagonista de “O Processo” de Frank Kafka, a cabo, sucumbiu e, por interpretação, quedou a razão e a boa-fé nos debates. Aqui podemos e devemos criar um desfecho distinto, caso a administração municipal retire recurso protelatório contra a decisão judicial. Que se cumpra! Nossa cidade precisa de paz e união para que as promissoras ações objetivando reavivar nosso querido Mapro floresçam.

 

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