Dependência ou morte?

Por Walber Gonçalves de Souza, professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni


Por Tribuna

07/09/2017 às 06h30

O processo de independência encaixa-se em um dos fatos mais marcantes da História do Brasil. Influenciado pelas ideias iluministas que naquela época se espalhavam pelo mundo, um grupo de pessoas articulou a separação política-administrativa do Brasil em relação a Portugal. O lendário jargão “Independência ou morte”, que ainda se faz presente nos livros didáticos e na memória coletiva, simboliza o referido momento histórico.

É inegável que o dia 7 de setembro de 1822 marcou simbolicamente o início de uma nova era na História do nosso país. Mudanças de fato ocorreram, era preciso que a nova nação procurasse construir a sua própria identidade. E uma das primeiras medidas tomadas foi a elaboração da nossa primeira Constituição, nomeada como Constituição da Mandioca.

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Na elaboração das nossas primeiras leis chegaram a um acordo que somente as pessoas de posse, portanto a elite brasileira da época, poderiam participar da Assembleia Constituinte. Assim, as pessoas livres, mas que não eram endinheiradas, os negros, a maior parte da população na época, mas ainda escravos, não puderam participar efetivamente da construção das bases da nossa dita independência.

O tempo passou, estamos perto de completar o segundo centenário da nossa “independência ou morte”. Hoje talvez consigamos ver que a independência foi para poucos e a morte ainda permanece para muitos.

Conquistamos nossa independência política, mesmo que a trancos e barrancos conquistamos nossa independência econômica, vivemos em um estado laico, possuímos nossos símbolos nacionais, entre outras coisas; mas acredito que ainda nos falta conquistar a mais importante independência, que deveria ser a nossa independência social.

Somos ainda um povo altamente dependente. Não conquistamos nossa cidadania, nossa liberdade de expressão, nossa participação política, vivemos em um país rico de povo miserável; não conquistamos de fato nossos direitos mais básicos, que deveriam ser uma educação de qualidade, saúde digna, segurança, momentos de lazer; não conquistamos nossa capacidade de pensar e ser, ainda somos muito preconceituosos, pobres de espírito, mesmo dizendo o contrário.

A história nos mostra que as mudanças sociais são lentas, muitas demoram demasiadamente, mas elas devem acontecer. A Independência do Brasil só vai se concretizar de fato quando o povo for independente, quando nós “aprendermos a pescar”, quando tivermos a coragem de ser donos do próprio destino, quando acreditarmos que também somos os responsáveis pelas mudanças que cobramos e queremos. Quando perdermos o ranço do jeitinho e da “síndrome do vira-lata”. Enquanto isso vamos comemorando a independência de alguns e a morbidez de muitos.

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