Comodidade e conhecimento popular
“Precisamos entender que a popularidade e a aceitação de uma determinada afirmação, ensino, ideia, ou/e pensamento não garantem sua veracidade”
Não é novidade para ninguém que nossa sociedade padece de um comodismo crônico diante das coisas relacionadas à busca e à aquisição de conhecimento. Há muito tempo, nosso povo vem sendo “educado” e tendo a sua consciência formada por coisas relacionadas ao “ouvi falar”, ou “todo mundo diz isso”, ou “eu vi na televisão”, entre outras expressões que demonstram a falta de interesse pela busca e pela aquisição do conhecimento por conta própria, um conhecimento que ultrapasse aquilo que “todo mundo diz”.
Até mesmo em grande parte das instituições educacionais e acadêmicas, o conhecimento foi corrompido para facilitar a propagação de ideais e ideologias corruptoras, moldando o pensamento de muitos, privando-os de conhecer ideias diferentes e pensamentos contrários aos da instituição, cerceando, assim, a liberdade de pensamento, tão cara e importante para o debate e a evolução das ideias que pavimentam o caminho para o conhecimento seguro e verdadeiro.
Sem essa abertura para a discussão séria sobre as diferentes ideias e os pontos de vista, o acesso ao verdadeiro conhecimento e a tudo o que é real, ou não, se torna muito difícil, sendo mais fácil e confortável acreditar em tudo aquilo que nos é passado e ensinado como verdadeiro, mesmo que o ensinamento não resista a uma pesquisa séria, fazendo com que muitos se moldem ao pensamento popular, e até mesmo normativo, por lhes faltar o necessário para resistir ao sistema que sustenta a nossa mentalidade de rebanho, fazendo com que a conformidade se torne o caminho mais fácil. Como já disse Sócrates, “não é fácil, em tão pouco tempo, destruir grandes mentiras”, muito menos se livrar das amarras dos falsos ensinos.
Diante dessa realidade, fica cada vez mais difícil para o cidadão comum romper com falácias, sofismas, ideologias e mentiras que lhes são apresentados diariamente como “verdades”, como sendo o “correto”, por apresentarem como índices de “veracidade” a grande adesão popular que tais propostas e argumentos chegam a ter. Tal adesão popular não vem, de forma alguma, por se tratar de algo proveniente de argumentos irrefutáveis, mas tão somente pela incapacidade que a sociedade atual tem de separar o certo do errado com base em conhecimentos que excedem aquilo que o “sistema” lhe apresenta.
Precisamos entender que a popularidade e a aceitação de uma determinada afirmação, ensino, ideia, ou/e pensamento não garantem sua veracidade, e que poucos serão aqueles que se dedicarão a saber a verdade sobre tais afirmações, escolhendo a comodidade da ignorância e da conformidade com os outros. Mas, para chegarmos a um conhecimento sério, real e verdadeiro, precisamos nos desprender da simplicidade do conhecimento popular, que é tão fácil de ser manipulado, e nos empenhar na busca do conhecimento por nós mesmos, mesmo que esse seja o caminho mais duro e difícil. Somente assim começaremos, um a um, a acordar e a entender a complexidade da realidade que nos cerca e, somente a partir disso, poderemos ter a esperança de mudar tal realidade, nos tornando assim pessoas melhores e, consequentemente, uma sociedade melhor.
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