A palavra é Ressurreição
Na segunda-feira após a Páscoa, durante a oração do Regina Coeli, o Papa Francisco tornou a fazer um apelo pela paz. “Invoquemos o dom da paz para o mundo inteiro, especialmente para as populações que mais sofrem por causa dos conflitos em andamento”, exortou o sumo Pontífice.
Em tempos em que a diplomacia vem sendo relegada à mera emissária das desavenças entre os povos e guerras são travadas com inúmeras vítimas civis, principalmente crianças, sem que haja mobilizações efetivas por parte dos líderes mundiais, a voz do Santo Padre clama num deserto de omissões e interesses escusos.
Também no Brasil, a Igreja vem se empenhando na construção de uma cultura da paz face às crescentes e trágicas expressões de desprezo à vida, de intolerância e de ódio, cultivadas na sociedade. “Fatores sociais, entre os quais a necessidade de segurança, tendem a fixar as pessoas em ideias ou tendências ideológicas blindadas em si mesmas, deixando assim de favorecer o diálogo entre as gerações ou entre grupos e promovendo o fundamentalismo em todas as suas vertentes”, afirma dom Francisco Biasim, acerca das polarizações que temos nos entrincheirado. “O diálogo é um dos caminhos privilegiados para construção de um novo projeto de sociedade, como nos ensina exortação apostólica Alegria do Evangelho.”
As bases para a participação dos cristãos nesse diálogo continuam sendo as mesmas pelas quais Jesus sofreu sua Paixão. Morreu pelo perdão dos nossos pecados, conforme o plano de Deus. Mas foi “assassinado pelos interesses da casta no poder, aterrorizada pelo medo de perder o domínio sobre o povo”, conforme “os interesses, a conveniência e a cobiça dos homens”, afirma o biblista italiano Alberto Maggi. Com sua Páscoa, no entanto, o Cristo quebrou o muro de divisão entre os homens e restabeleceu a paz, começando a tecer a rede de uma nova fraternidade.
De fato, “não pode haver verdadeira comunhão e um compromisso em favor do bem comum e da justiça social sem a fraternidade e partilha”, disse o Papa. “Somente a fraternidade pode garantir uma paz duradoura, derrotar as pobrezas, superar as tensões e as guerras, extirpar a corrupção e a criminalidade.”
Na homilia pascal, Francisco dizia que nós, cristãos, acreditamos e sabemos que a ressurreição de Cristo é a verdadeira esperança do mundo, a esperança que não decepciona. É a força do grão de trigo, a do amor que se humilha e oferece até ao fim e que verdadeiramente renova o mundo. Esta força dá fruto também hoje nos sulcos da nossa história, marcada por tantas injustiças e violências, em especial contra os mais pobres e contra a integridade de nossa Casa Comum.
Dá frutos de esperança e dignidade onde há miséria e exclusão, onde há fome e falta trabalho, no meio dos migrantes e refugiados.
Por isso, “a morte, a solidão e o medo já não são a última palavra. Há uma palavra que vem depois e que só Deus pode pronunciar: a palavra é Ressurreição!”.
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