Dia Internacional da Mulher: para quê?


Por Ione Barbosa, delegada

07/03/2021 às 06h55

Muita gente nos pergunta: para que serve o Dia Internacional da Mulher? Sem entrar nos pormenores das razões que levaram a Organização das Nações Unidas a instituir essa data, costumamos responder que ela se presta, fundamentalmente, a duas coisas: a uma tomada de consciência e a uma tomada de atitudes.

Primeiramente, portanto, há que haver uma tomada de consciência crítica e reflexiva acerca do longo, difícil e sinuoso caminho histórico ao longo do qual as mulheres vêm reagindo, resistindo, lutando, enfrentando lutas e barricadas para se afirmarem como pessoas (dotadas de humana dignidade) e como cidadãs (titulares de direitos fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à paz, à integridade física e outros).

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E cumpre desde logo enfatizar: a afirmação da dignidade humana das mulheres e o reconhecimento de sua condição de cidadãs não são dádivas, nem outorgas, tampouco concessões por parte dos homens. Foram e continuam sendo árduas conquistas!

E aqui se afigura imperativa uma tomada de atitude: para que as conquistas havidas ao longo da história não se frustrem, nem se esvaziem em melancólica inefetividade, cumpre fazer valer, concretamente, os dispositivos da Lei Maria da Penha, seja para proteger, seja para promover as mulheres vítimas das várias formas de violência.

Violência como a que sofreu uma mulher de nossa cidade, que ficticiamente chamaremos de Tereza, cujo drama foi captado pelas câmeras de segurança da Rua Halfeld: ali, pouco antes das 15h, em meio a milhares de pessoas, Tereza tentava fugir de um homem que, depois de persegui-la por um quarteirão, finalmente a alcançou, segurou seus braços e a levou até a entrada de uma galeria.

Imobilizada, ela não tinha como reagir e, no máximo, o que fez foi tentar abaixar o rosto diante do soco que o agressor queria desferir contra ela. Nesse momento aparecem dois policiais, que abordam o agressor, prendem-no, identificam-no e descobrem que ele estava descumprindo uma medida protetiva.

Ainda sob tensão, Tereza começou a chorar e a seguir se identificou como sendo ex-companheira do homem e que dele estava separada, justamente, em razão do longo histórico de agressões por ela sofridas durante o convívio.
No momento em que foi preso, o homem disse à sua vítima: “vou sair da cadeia e vou acabar com sua vida. Não tem jeito, você é minha”!

O que desde logo salta aos olhos e grita à nossa consciência é a convicção do agressor em considerar sua ex-companheira não uma pessoa dotada de dignidade, merecedora de respeito e com pleno direito à liberdade. Muito pelo contrário: a ex-companheira não passa de uma coisa, um mero objeto que pertence a ele e que, por isso, não tem a mais mínima condição de querer ser livre.

Mas a brutalidade do agressor não se esgota nisso. Sendo a mulher tratada como uma coisa de sua propriedade, ele entende que pode persegui-la, agredi-la, molestá-la! E se quiser, pode ir além: pode simplesmente descartá-la ou destruí-la. Logo, dizer que a sua ex-companheira tem direitos é algo que se lhe afigura inaceitável absurdo!
Este é apenas um dentre os milhares de casos que ocorrem hora a hora, dia a dia, ao longo de todo ano, aqui, no espaço concreto da nossa cidade!

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Mas talvez alguém esteja ainda a se perguntar: para que mais serve o Dia Internacional da Mulher?

E aqui respondemos: serve para lembrar que, por mais bárbaro e desafiador que seja o fenômeno da violência contra as mulheres, ele pode ser enfrentado e vencido pela mobilização das mulheres e dos homens de boa vontade. Em coro indignado e confiante, estas pessoas estão agora a dizer: Tereza (Terezas!), a sua luta é também a nossa luta.

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