Ano novo, vida nova?


Por Rovena Lopes Paranhos Psicóloga, coordenadora do curso de Psicologia da FMP/Fase (RJ)

07/01/2018 às 07h00

Ano novo, vida nova! Não raro esse bordão é retomado, nesta época quando um novo ano começa, como se na esperança de que o velho ano que acaba leve com ele uma vida que não mais se quer repetida. Será mesmo que o simples avanço do ponteiro do relógio, marcando a virada das horas, é também capaz de marcar e mesmo determinar uma mudança de tamanha grandeza na vida de cada um de nós? Ou será que esse é um anseio particular e íntimo de que, magicamente, deixem de existir no novo ano – mais precisamente quando do avanço de segundo do ponteiro do relógio – as condições que nós próprios determinamos para nossas vidas no velho ano?

Se entendermos a vida como um curso em que ao longo de seu decurso buscamos sempre o transcurso de nossas próprias condições e limitações, talvez possamos vislumbrar um percurso mais suave, tranquilo, sem sobressaltos desnecessários e onde nossa bagagem seja tão somente a possível e necessária. Assim, será possível, como caminhantes nesse curso, que possamos aprender a velha lição que o poeta espanhol Antonio Machado nos deixou anos atrás, mas que segue nova e se pode renovar a cada dia: “Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais; caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar. Ao andar se faz caminho e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar”.

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Se é possível que dediquemos uma atenção – mesmo que fugaz – a essa bela, poetizada, mas muito verdadeira constatação acerca do curso da vida, talvez sejamos capazes de compreender que não há um velho a se descartar, tampouco um novo a se ganhar.

Há um caminho contínuo, real e seguro onde o ontem (velho) determinou o hoje (possível) que está construindo o amanhã (novo). Se assim entendermos o curso da vida, talvez também sejamos capazes de depositar menos expectativas em desejos e promessas pouco realistas de um novo ano e investir mais dedicação, esforço e valor em viver plenamente o caminho e a caminhada. Aprendendo com Cora Coralina que “o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.

E por certo colheremos sempre anos plenos de vida, de valor, de esperança.

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