Juiz de Fora foi parar no Fantástico!

Por Marcelo do Carmo, Professor do Departamento de Turismo da UFJF


Por Tribuna

05/09/2017 às 08h02- Atualizada 05/09/2017 às 14h41

Por Marcelo do Carmo, Professor do Departamento de Turismo da UFJF

Entre 14 e 20 de agosto, Juiz de Fora presenciou a volta do Miss Brasil Gay. O concurso retorna depois de quatro edições canceladas, juntamente com o Rainbow Fest Brasil e a I Semana Rainbow da UFJF. Como um dos pontos altos do evento, o Miss Brasil Gay esteve por sete minutos no “Fantástico – o show da vida”, em uma reportagem que destacou a importância de assumirmos nossas identidades, nosso estilo e nossa “performance”, em tempos de intolerância e polarização política.

Entretanto, para além da efervescência cultural, os eventos LGBTTI (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e intersexos) dão visibilidade e reconhecimento à cidade. As reflexões em torno do Miss Brasil Gay sugerem, imediatamente, quatro categorias de análise: questões econômicas; sociais; de “turistificação do destino”; de comunicação & marketing.  No que diz respeito à economia, e sob a coordenação da UFJF, a “pesquisa do perfil da demanda turística” que visitou a cidade entre 17 e 20 de agosto sugere uma média de quatro mil turistas. Traduzindo em números: os eventos LGBTTI fizeram a taxa de ocupação mensal dos hotéis saltar de 45% para 67%, ou seja, um acréscimo de 22%.

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A pesquisa revela que 60% dos turistas ocuparam parte dos 1.425 quartos dos dez hotéis pesquisados. Assim, temos um total de 855 quartos ocupados (média de dois turistas por apartamento), que perfazem o total de 1.710 turistas. A esse número devem ser acrescentados os turistas que se hospedaram na casa de amigos e os excursionistas, que não utilizaram meios de hospedagem. Essa análise preliminar permite aferir o número aproximado de quatro mil turistas e excursionistas, além da movimentação da população local. Se cada uma dessas pessoas gastou na cidade em torno de R$ 500, chega-se à marca de R$ 2 milhões injetados na economia.

No que diz respeito às questões sociais, o retorno do Miss Brasil Gay é terreno fértil para a pesquisa, a extensão e o ensino. Um universo de possibilidades para se pensarem o preconceito, as diferenças ou “alteridade”, a aceitação de novas formas de viver, os novos formatos familiares e as novas orientações sexuais e/ou de gênero. Os eventos LGBTTI existem justamente para dar visibilidade e tornar mais “palatável” essa discussão ainda “árida”. Porém a realidade continua apavorante: um homossexual é morto a cada 25 horas no Brasil; a expectativa de vida para travestis no Brasil é de 35 anos; em países do Oriente Médio e da África, a homossexualidade é punida com pena de morte… E os horrores não param por aí!

Por “turistificação do destino” entende-se: criação e incremento das opções de lazer e serviços destinadas ao turista, através de parcerias público-privadas. Em uma relação a ser otimizada e estabelecida nos moldes do “ganha-ganha”, como em poucas vezes, entidades locais ligadas ao turismo uniram-se para promover atividades que aumentassem a permanência do turista. Os resultados ainda foram tímidos, pois a grande maioria dos turistas permaneceu entre uma e duas noites na cidade. Porém o esforço conjunto é apenas a etapa inicial de uma política pública em turismo – a ser criada, em nível municipal – que valorize e apoie os eventos LGBTTI, fazendo com que a cidade volte a ser referência em “turismo gay”.

Por fim, fica a reflexão: quando a cidade esteve em um dos principais programas jornalísticos do país? Quanto custaria o investimento em mídia, com duração de sete minutos, nesse programa? É o momento de a cidade perceber os eventos LGBTTI como espaço de/para vários “tribos” que coabitam e esforçam-se para serem reconhecidas e valorizadas nas suas manifestações e no seu arco-íris de possibilidades.Fica a dúvida: nos vemos em agosto de 2018? Infelizmente, não há garantias da manutenção dos eventos LGBTTI em Juiz de Fora.

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