Juiz de Fora foi parar no Fantástico!
Por Marcelo do Carmo, Professor do Departamento de Turismo da UFJF
Por Marcelo do Carmo, Professor do Departamento de Turismo da UFJF
Entre 14 e 20 de agosto, Juiz de Fora presenciou a volta do Miss Brasil Gay. O concurso retorna depois de quatro edições canceladas, juntamente com o Rainbow Fest Brasil e a I Semana Rainbow da UFJF. Como um dos pontos altos do evento, o Miss Brasil Gay esteve por sete minutos no “Fantástico – o show da vida”, em uma reportagem que destacou a importância de assumirmos nossas identidades, nosso estilo e nossa “performance”, em tempos de intolerância e polarização política.
Entretanto, para além da efervescência cultural, os eventos LGBTTI (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e intersexos) dão visibilidade e reconhecimento à cidade. As reflexões em torno do Miss Brasil Gay sugerem, imediatamente, quatro categorias de análise: questões econômicas; sociais; de “turistificação do destino”; de comunicação & marketing. No que diz respeito à economia, e sob a coordenação da UFJF, a “pesquisa do perfil da demanda turística” que visitou a cidade entre 17 e 20 de agosto sugere uma média de quatro mil turistas. Traduzindo em números: os eventos LGBTTI fizeram a taxa de ocupação mensal dos hotéis saltar de 45% para 67%, ou seja, um acréscimo de 22%.
A pesquisa revela que 60% dos turistas ocuparam parte dos 1.425 quartos dos dez hotéis pesquisados. Assim, temos um total de 855 quartos ocupados (média de dois turistas por apartamento), que perfazem o total de 1.710 turistas. A esse número devem ser acrescentados os turistas que se hospedaram na casa de amigos e os excursionistas, que não utilizaram meios de hospedagem. Essa análise preliminar permite aferir o número aproximado de quatro mil turistas e excursionistas, além da movimentação da população local. Se cada uma dessas pessoas gastou na cidade em torno de R$ 500, chega-se à marca de R$ 2 milhões injetados na economia.
No que diz respeito às questões sociais, o retorno do Miss Brasil Gay é terreno fértil para a pesquisa, a extensão e o ensino. Um universo de possibilidades para se pensarem o preconceito, as diferenças ou “alteridade”, a aceitação de novas formas de viver, os novos formatos familiares e as novas orientações sexuais e/ou de gênero. Os eventos LGBTTI existem justamente para dar visibilidade e tornar mais “palatável” essa discussão ainda “árida”. Porém a realidade continua apavorante: um homossexual é morto a cada 25 horas no Brasil; a expectativa de vida para travestis no Brasil é de 35 anos; em países do Oriente Médio e da África, a homossexualidade é punida com pena de morte… E os horrores não param por aí!
Por “turistificação do destino” entende-se: criação e incremento das opções de lazer e serviços destinadas ao turista, através de parcerias público-privadas. Em uma relação a ser otimizada e estabelecida nos moldes do “ganha-ganha”, como em poucas vezes, entidades locais ligadas ao turismo uniram-se para promover atividades que aumentassem a permanência do turista. Os resultados ainda foram tímidos, pois a grande maioria dos turistas permaneceu entre uma e duas noites na cidade. Porém o esforço conjunto é apenas a etapa inicial de uma política pública em turismo – a ser criada, em nível municipal – que valorize e apoie os eventos LGBTTI, fazendo com que a cidade volte a ser referência em “turismo gay”.
Por fim, fica a reflexão: quando a cidade esteve em um dos principais programas jornalísticos do país? Quanto custaria o investimento em mídia, com duração de sete minutos, nesse programa? É o momento de a cidade perceber os eventos LGBTTI como espaço de/para vários “tribos” que coabitam e esforçam-se para serem reconhecidas e valorizadas nas suas manifestações e no seu arco-íris de possibilidades.Fica a dúvida: nos vemos em agosto de 2018? Infelizmente, não há garantias da manutenção dos eventos LGBTTI em Juiz de Fora.