O mundo inteiro


Por Sebastião Luiz Alves, Professor de gestão da UniAcademia e mestre em responsabilidade social (UFF)

05/08/2020 às 06h39

O mundo inteiro, todas as nações, pensando na sua soberania, pensando em defender o seu povo, o seu território, o seu patrimônio, em aumentar o seu domínio territorial e o seu poderio econômico, se lançam a recrutar jovens, transformá-los em soldados treinados para destruir inimigos. O mundo inteiro, desde sempre, prepara armas, as mais mortais possíveis, tanques de guerra indestrutíveis, aviões velozes e furiosos, mísseis de longo alcance, que atravessam oceanos, e tudo o que é possível se transforma em arma, para amedrontar e aterrorizar outras nações, para que não se atrevam a nem pensar em algum ataque. Espionagens são realizadas, serviços de inteligência (tola inteligência) e estratégias “infalíveis” são preparados para impedir o terrorismo e monitorar o movimento dos inimigos.

O mundo inteiro se preparou para enfrentar um inimigo visível, um inimigo material, um inimigo que também tenha um território, um patrimônio a defender. Mas, surpreendentemente, o mundo inteiro, que cultivou arrogância, ganância e hipocrisia, “ironicamente”, não está preparado para um inimigo que, de tão pequeno, é invisível, “insignificante”, e que por isso mesmo se tornou perigoso e incontrolável. Um inimigo que se hospeda nas pessoas e que se espalha rapidamente, que pode estar em qualquer coisa que você toca na rua, que se esconde nas pessoas que você ama. Seu carinho, seu abraço ou seu beijo podem ser fatais. Podemos ser portadores e não saber, e por isso temos que nos afastar, que contradição! Se antes precisávamos nos unir para ganhar forças para enfrentar um inimigo, agora precisamos nos afastar em um “isolamento social”. É um paradoxo! Uma quebra total nos paradigmas estratégicos. Nessa guerra silenciosa, onde não se ouve o ruído de bombas a destruir as edificações, somente os apelos assustados pelo fim dessa batalha surda que destrói a lógica das nossas certezas.

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O mundo inteiro, agora, precisa repensar suas práticas, suas estratégias e seus conceitos de poder, força e superioridade. Quem agora é mais poderoso? Quem é superior? É por isso que precisamos de uma reflexão para tirarmos lições, para que no futuro também estejamos preparados para enfrentar o invisível, que possamos reconhecer a nossa pequenez e a nossa dependência, pois dependemos uns dos outros, não somos melhores que ninguém. Por muito tempo cultivamos a indiferença, mas agora não dá mais. É uma pandemia que promove uma anemia social, necessária e inevitável, que leva a sociedade a parar irremediavelmente e a ficar, assim como as sementes, num estado de dormência a esperar a primavera.

Como combater o invisível? Muito provavelmente com o invisível também, não sendo indiferente, sendo mais humano, mais humilde e, um a um, contagiar o mundo inteiro. Antes, estávamos sozinhos na multidão. Agora, estamos, estranhamente, unidos pela solidão, uma solidão coletiva que nos irmana, nos iguala e provoca solidariedade, uma solidariedade proveniente de uma sintonia, que nos faz desejar o bem daqueles que não vemos, que não conhecemos, mas de quem entendemos as dores e as angústias. Assim, passamos a torcer pelo mesmo objetivo, lutar contra um mesmo inimigo, pois agora estamos do mesmo lado, do lado de dentro e do lado do mundo inteiro.

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