A paisagem que ninguém quer ver
Em meio aos grandes centros comerciais e vias movimentadas, lá estão eles. Às vezes, sentados em uma calçada movimentada, na altura dos milhares de pés que passam sem nem notá-los. Outras, vagando pelas ruas da cidade. A paisagem que ninguém quer ver.
Desemprego, dependência química, problemas psicológicos, conflitos familiares, abuso e violência, desigualdade social e econômica, falta de uma política para todos. Qual desses será o motivo para eles estarem ali? A paisagem que ninguém quer ver.
Estamos tão acostumados que os colocamos como parte de um cotidiano normal, invisível aos olhos e ao consciente. Seja pela rotina agitada, pouco dinheiro e até mesmo pela falta de empatia ao próximo, a invisibilidade das pessoas em situação de rua se torna cada vez mais normalizada. Somente em Juiz de Fora, são mais de 200, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) da Prefeitura de Juiz de Fora.
E aqui, no conforto da minha casa, com cama, comida e roupa lavada, me pergunto o motivo de tanta desigualdade e tanto descaso. Será que é porque pobreza e miséria não pegam? Por isso não devem ser tratadas com tanto esforço quanto se trata uma doença? Ou tratávamos, visto que, em plena pandemia do novo coronavírus, o número gigantesco de mortos em todo o país é capaz de arrancar apenas um “E daí?”. No momento em que higienização e isolamento social são de extrema importância para se combater um vírus, eles continuam lá. A paisagem que ninguém quer ver. Sem nome, sem rosto, sem voz. Marginalizados, sem cuidados e oportunidades.
Hoje, não! Aqui, os números têm nomes. É o casal Rafael e Verônica, que vive nas ruas do Bairro Santa Helena. É o Cabral, que fica na Rua Mister Moore com sua inseparável cadela, Priscila. São o Mauro e a Rosângela, que têm como lar a Praça da Estação. É o Jessé, que ama cantar e faz da rua seu palco. A Cristina, que fica no Mergulhão. O Edson e tantos outros que estão por aqui e por aí também.
O fato é que essa desagradável paisagem, que se torna tão banalizada, não pode ser mais um costume. Eu, pelo menos, nunca vou me acostumar com o fato de que a rua, tão fria e solitária, seja o lar de alguém ou de milhões. Porque não importa se são um ou se são mil, a revolta deve ser a mesma.