Rodovias que perdoam! (parte II)


Por José Luiz Britto Bastos, Mestre em engenharia de transportes (COPPE UFRJ) e observador Certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária

04/01/2022 às 07h00

Durante dez anos, a ONU, preocupada com a perda de mais de 1,3 milhão de vidas e de 20 a 30 milhões de vítimas politraumatizadas pelos acidentes de trânsito, propôs a 140 dos seus países membros criar uma década (2011/2020) de ações no sentido de reduzir em pelo menos 50% os terríveis resultados dessa tragédia. A década terminou, e esse percentual não foi atingido, mas houve, sim, algum progresso.

No Brasil, conseguimos reduzir essas fatalidades em 30%, mas ainda perdemos por ano, vítimas de acidentes de trânsito, cerca de 30 a 32 mil vidas, enquanto que a França, por ano, perde 2.300 vidas, o que tem causado um grande constrangimento, imaginem, por parte das autoridades daquele país.

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Em Estocolmo (Suécia), em 2021, a ONU novamente voltou a propor aos seus países membros uma nova década de ações para a redução de pelo menos 50% dos acidentes de trânsito com vítimas fatais, e, nesse contexto, mudar projetos para reduzir os acidentes de trânsito rodoviários pressupõe mesmo a modificação de velhos conceitos de engenharia.

Sob esse aspecto, dentro do conceito de “Rodovias que Perdoam”, o projeto piloto que vem sendo realizado por Dnit, SNTT, UFPR, ONSV, nos diz que as rodovias brasileiras estão sendo avaliadas e diagnosticadas, com vistas à construção de áreas de escapes, instalação de sonorizadores longitudinais, balizadores entre pistas, enfim, pequenas ou grandes ações de baixo custo e grande importância com resultados significativos. Segundo o engenheiro e professor da UFPR Tiago Bastos, “mobilidade e segurança viária devem andar juntas”. Isso é evoluir no aprendizado, numa nova visão da engenharia sobre a segurança viária.

Assim, a sinalização viária vertical e horizontal, com novas tecnologias, tende a melhorar, inclusive no que se refere ao sistema de comunicação do sinistro quando o próprio obstáculo informa às autoridades sobre o acidente ocorrido. Isso é muito importante, porque tende a reduzir o tempo na prestação do socorro às vítimas envolvidas naquele acidente, fator fundamental para a redução de mortes em razão desses sinistros.

E assim formaram-se as metas prioritárias para o Projeto “Rodovias que Perdoam”, como: adotar soluções tipo baixo custo e com forte impacto nos locais críticos de sinistros; regulamentar práticas, materiais e dispositivos com novas tecnologias e inovações na segurança viária; complementar os estudos de modelagem para concessões e seus respectivos editais; inserir anexo especializado de segurança viária nos editais de concessão ou de obras rodoviárias; revisar a concepção dos projetos de engenharia rodoviária; otimizar o processo de atendimento de emergência e encaminhamento pré-hospitalar e hospitalar; estabelecer um processo de certificação para projetos, obras e serviços nos aspectos referentes à segurança viária; criar cursos técnicos e de especialização específica para a segurança viária, com vistas a prospectar recursos internacionais para financiamentos de estudos, pesquisas e principalmente ações.

E, assim, “Rodovias Perdoam” os erros humanos e pedem “perdão” pelos próprios erros de projeto cometidos involuntariamente e oriundos da engenharia rodoviária!

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