A vida dos idosos importa?
“O idoso vai ser bônus ou ônus para sua família ou sociedade dependendo da forma como envelheceu. E aí, nós, família e sociedade, temos uma grande contribuição”
“Vai pra casa, velho!” “Por isso que morre… Velho é muito teimoso!”
Frases e cenas como essas foram bastante divulgadas pelas redes sociais e pelos canais de TV durante a quarentena. O vírus expôs, entre várias outras coisas, o preconceito que a nossa sociedade tem contra os idosos. Etarismo ou ageismo. É, tem até nome. E não é exclusividade brasileira… Infelizmente, este preconceito está espalhado por todo o mundo.
No mês de setembro, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), com sociedades e organizações científicas em geriatria e gerontologia do mundo inteiro, lançou a campanha de sensibilização global sobre os direitos das pessoas com 60 anos ou mais, por meio da campanha “Old Lives Matter”.
Uma das formas mais eficazes de combater preconceitos, seja ele qual for, é a informação. No caso dos idosos, é preciso combater os vários mitos incutidos na nossa cultura. “Os idosos não podem trabalhar; as pessoas mais velhas são todas iguais, possuem saúde debilitada; os idosos são frágeis; eles não conseguem resolver suas necessidades básicas; os mais velhos nada têm a contribuir, são um ônus econômico para a sociedade.”
O idoso vai ser bônus ou ônus para sua família ou sociedade dependendo da forma como envelheceu. E aí, nós, família e sociedade, temos uma grande contribuição, desde a forma como convivemos com os idosos da nossa casa até como a nossa cidade acolhe esse idoso. Muitos idosos são usurpados de sua aposentadoria por um parente próximo, privando-o de comprar medicações adequadas, ter acesso a atividades de lazer e cultura ou a uma atividade física de qualidade. Quantos especialistas em idosos (geriatras e gerontólogos) temos atendendo no serviço público de nossas cidades?
O dia 1º de outubro foi o Dia Internacional da Pessoa Idosa. Convido o leitor a refletir sobre os idosos e o envelhecimento, de forma ousada e verdadeiramente moderna. Pois modernidade, na minha visão, é romper com paradigmas. Alguém já disse que as pessoas mais interessantes que ele conhece têm mais de 40 anos. Eu diria que têm mais de 60!
Somos induzidos a escolher nossas amizades e nossos convívios por laços familiares, trabalho, religião e idade. Relações que nem sempre são saudáveis, conversas que nos desmotivam e pessoas que nos fazem ficar sempre no lugar comum.
Combata o seu preconceito, conviva mais com os idosos e ouça estórias que vão te surpreender. Dia desses, eu fui “afagado” com uma dessas… Um idoso de 97 anos, que foi dirigindo ao consultório onde eu atendo, me disse que estava com um pouco de pressa, pois tinha que chegar a tempo em casa para ler um trecho da Bíblia para sua esposa (restrita ao leito com Alzheimer) antes que ela dormisse, hábito que tinha há mais de 60 anos.
A vida dos idosos importa muito para mim. E para você?