Comunidades Eclesiais de Base hoje

“As CEBs, porém, não acabaram. Elas continuam se deixando conduzir pelo espírito do Concílio, agora renovado por Francisco e seu chamado à sinodalidade”


Por Equipe “Igreja em Marcha”, Grupo de Leigos Católicos

03/02/2023 às 07h00

O Concílio Vaticano II (1962-65), convocado pelo Papa João XXIII para atualizar a pastoral católica, provocou muitas inovações na forma de a Igreja desempenhar seu papel no mundo contemporâneo. Uma delas, oriunda da América Latina, foi a organização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Animadas por leigas e leigos, elas ganharam enorme capilaridade social, sendo capazes de penetrar em espaços sociais não alcançados pelo clero. Contando com o apoio de bispos, padres e congregações religiosas, em pouco tempo, elas se espalharam pelo nosso Continente, inaugurando uma “nova forma de ser Igreja” – como a elas se referiu a CNBB em documento de 1982.

O apoio eclesiástico, porém, não era grande. A afinidade das CEBs com a Teologia da Libertação e sua leitura popular da Bíblia eram vistas com suspeita pelos setores eclesiásticos temerosos pelos rumos que a Igreja estava tomando depois do Concílio. A pressão sobre elas cresceu após a vitória do Ocidente capitalista na guerra-fria. Ali acabava-se o sonho de um mundo socialmente igualitário, pois o novo século seria o século do individualismo bem-sucedido. O ambiente cultural desse tempo seria mais propício à Teologia da Prosperidade, às Igrejas neopentecostais e aos Movimentos de tipo carismático que não colocam em questão o sistema neoliberal nem a ordem econômica mundial. Também a Igreja católica refluiu sobre si mesma, para salvaguardar suas tradições e, assim, garantir uma identidade religiosa aceitável pelo mundo contemporâneo.

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Foram então retomadas práticas religiosas anteriores ao Concílio, valorizando-se rituais de nossos avós e devoções populares que haviam sido quase abandonadas pelo clero. Essa forma de religiosidade pré-moderna não se opõe ao avanço do neoliberalismo no mundo atual: ao buscar refúgio na liturgia do passado, suas celebrações despertam emoções adormecidas, reforçam a moral individual e familiar e trazem a tranquilidade para quem reduz o cristianismo a uma religião para as pessoas de bem.

As CEBs, porém, não acabaram. Elas continuam se deixando conduzir pelo espírito do Concílio, agora renovado por Francisco e seu chamado à sinodalidade. Esse é o espírito que leva muitos setores do laicato – inclusive o grupo de leigos responsável por esta coluna – a insistir na importância de colocar em prática as diretrizes fundamentais do Vaticano II. Por isso as CEBs convocam todo o Povo de Deus a apoiar seu 15º Encontro Intereclesial, a realizar-se de 18 a 22 de julho deste ano, no Mato Grosso. É ali, em meio aos sofrimentos de povos originários da Amazônia, que elas propõem construir uma “Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas”, tendo por lema o anúncio de Isaías: “Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra”.

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