Reduzindo os estragos das chuvas
A estação das águas tem início na transição da primavera para o verão nos trópicos meridionais e se estende até por volta de março, quando tem início o outono. O aquecimento do Hemisfério Sul, gerado pela conjugação do movimento de translação (movimento que a Terra executa em torno do Sol e que tem duração de 365 dias e seis horas, aproximadamente) e da inclinação do eixo terrestre em relação ao plano de sua órbita (trajetória que a Terra executa em torno do Sol ao longo do ano), faz com que a taxa de evaporação da água aumente, formando massas de ar que se deslocam da Amazônia ocidental para o Centro-Sul do país, onde se localiza Juiz de Fora. Essas massas equatoriais continentais quentes e úmidas entram em contato com massas tropicais, também quentes e úmidas, formadas sobre o Oceano Atlântico, nas imediações do Trópico de Capricórnio, que corta São Paulo e Mato Grosso do Sul. O resultado é a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que descarrega parte de sua umidade sobre a região.
Impermeabilização do solo, carência de áreas verdes, crescimento urbano desordenado, lixo, falta de manutenção das bocas de lobo etc. provocam os alagamentos a que estamos assistindo reiteradamente em Juiz de Fora, e não só aqui, obviamente. Páginas e perfis de redes sociais recebem vídeos e fotografias registradas no momento das tempestades tropicais e compartilham entre seus seguidores, nos dando a dimensão do problema que tantos transtornos causam à cidade e a seus habitantes e usuários.
Em pesquisa inédita publicada em 2014, cujos resultados subsidiam esse texto hoje, no âmbito de um programa de pós-graduação em Geografia da UFJF, foi demonstrado que nosso município carece de áreas verdes, sobretudo as públicas, que têm um importante papel na absorção das águas pluviais, além de inúmeros outros benefícios socioambientais explicados a seguir. Os mais incautos poderão objetar que a queda de árvores tem sido um desses transtornos vividos na estação chuvosa, porém a falta de manutenção destas (poda, diagnóstico e tratamento de doenças, falha na escolha das espécies, plantio em canteiros de dimensões inadequadas etc.) é um dos fatores responsáveis por esses acidentes. Uma cidade arborizada, por mais que eventuais quedas possam ocorrer, é muito mais saudável que uma cidade onde o concreto e o asfalto dominam a paisagem. Além de contribuir com a infiltração da água das chuvas, áreas verdes promovem uma série de outros “serviços ambientais”, como a redução de ruído em até 30% e redução das médias de temperatura no verão, pois formam ilhas de frescor, abrigo e fonte de alimento para animais que compõem a fauna urbana, absorção do dióxido de carbono (cujas emissões acentuam o efeito estufa, provocando o aquecimento global), redução da velocidade do escoamento superficial nas áreas de encostas, evitando deslizamentos (dependendo das espécies de plantas presentes nesses locais, pois algumas, como as bananeiras, podem até acelerar o processo dos escorregamentos) e também possuem valores estético e psicológico, que devem ser levados em consideração.
Assim, para uma cidade em que a produção do espaço geográfico é ininterrupta, que não para de crescer, que vê sua frota de veículos automotores aumentar, enfim, que tem seus desafios acentuados, as áreas verdes, especialmente as públicas que possam ser usufruídas pelas pessoas, são alternativas social e ambientalmente corretas e recomendadas para que cheguemos ao patamar de uma cidade inteligente e sustentável. Plantar árvores, sobretudo as nativas da região, é investir não só no futuro de nossa cidade, mas no futuro do planeta.