Você pode abrir todas as portas, por favor?

“São oportunidades como essas que retiram a disparidade inferior ocupada por pessoas pretas no mercado nos dias atuais”


Por Rafael Rodrigues, jornalista e analista de mídias sociais

01/12/2021 às 07h00

Pelo segundo ano consecutivo, uma grande loja varejista inicia um processo de trainee, exclusivamente para pessoas pretas, recebendo mais de 22 mil inscrições. Além de vínculo acadêmico (recém-formado ou no período da graduação), é necessário apenas ter disponibilidade para viagens, deixando de lado pré-requisitos de base, como cursos técnicos, línguas e experiência trabalhista, ampliando as chances de mais pessoas serem efetivadas. Embora a iniciativa tenha recebido apoio e reviews positivos, uma comunidade atrelou o trainee a um “racismo reverso” devido à priorização da comunidade negra para trabalhar na multinacional, em que brancos “não são permitidos nessa modalidade”. Mas a quantidade de pessoas negras ocupando tais vagas no Brasil está longe de ser um destaque.
Segundo dados do IBGE e do Instituto Ethos, as empresas do Brasil possuem menos de 30% dos cargos de liderança ocupados por pessoas negras. O percentual é baixo e ainda sofreu queda. Em 2018, a população preta ocupava 29,9% dos cargos gerenciais. Em 2019, esse índice caiu para 29,5%. Enquanto as mulheres brancas correspondiam a 66,9% dos cargos gerenciais, a parcela de negras nessas posições é de 31%. A diferença entre homens brancos (69,3%) e negros (28,6%) em postos de liderança é maior, a disparidade de cadeiras ocupadas atualmente pela comunidade preta é inferior, e propostas como essas apenas darão oportunidades para jovens realizarem seus sonhos em carreiras profissionais e alcançando patamares maiores do que as suas famílias atualmente têm, como investimento em educação, saúde, moradia, planejamento familiar, autoestima e principalmente: sonhar com um futuro sólido.
São oportunidades como essas que retiram a disparidade inferior ocupada por pessoas pretas no mercado nos dias atuais. Também neste ano, o Fundo Afrolever, voltado a pessoas negras no mercado, levantou R$ 17 milhões que serão destinados à promoção de propostas inclusivas de pessoas negras dentro e fora da empresa. O programa, criado pela Unilever, surgiu de constantes mobilizações de funcionárias pretas da empresa. Juntas, formaram, em 2019, o coletivo negro Afrolever para garantir o acesso, a permanência e a atuação de negros em postos de liderança na empresa, nos programas de atração de talentos e de estágio, além do destaque em campanhas de marketing.
  São ações como essas que priorizam, na corrida do mundo acadêmico e profissional, a garantia do sucesso e na chegada da pista. Oportunidade para ter meios, condições e base para aumentar a média de chefes, coordenadores, gerentes e gestores pretos e pretas no controle de empresas desse país. Que eles sejam o sucesso nessas portas abertas.
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