Avenidas, ruas e praças


Por Tribuna

01/01/2022 às 07h00- Atualizada 31/01/2022 às 21h16

Quando transitamos por nossa querida Juiz de Fora, vamos todos os dias revisitando o passado e firmando nossos desejos inconscientes de sociedade. Quem nos antecedeu na organização da cidade definiu quem deveria ser homenageado com uma rua, uma avenida ou uma praça. Não era de se esperar que uma cidade que foi gerenciada, em sua maioria, por uma classe dominante branca, elitista e eurocentrista homenageasse pessoas negras, operárias e/ou escravas que construíram com muito suor essa cidade.

No meio de tantos problemas de sobrevivência mais urgentes, precisamos nos atentar para algumas incoerências nos dias atuais, que caminham para um apagamento de memória e a vontade de reescrever a história na força. Mas nossa história local não vai ser simplesmente apagada, pois existem muitos que por ela lutam. Pela preservação de nossos heróis é que nos identificaremos como um nação igualitária e justa. O Brasil deveria seguir os acordos internacionais de preservação dos direitos humanos que assinou e rever suas políticas de homenagens aos descumpridores do passado.

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Em meio à tentativa do atual Governo federal de apagar os que lutaram pelas liberdades individuais e pelos direitos sociais, o presidente revogou diversos decretos de luto de cidadãos nacionais de tradição de luta social e maliciosamente não revogou o luto oficial de militares-presidentes que participaram da ditadura militar no Brasil. E isso revela muito qual sociedade está se querendo preservar: uma civilização paternalista, militarizada, autoritária e que reduz os direitos sociais e prevê a abolição do direito democrático. O objetivo é óbvio: em vez de priorizar educação e liberdades individuais, investir em controle do Estado e tutela militar, como os mais de seis mil militares que estão por todas as esferas desse atual governo de extrema direita.

Mas, voltando para Juiz de Fora de 2022, ainda temos uma avenida homenageando o ditador e presidente-general Arthur da Costa e Silva. Denominaram uma Estação de Tratamento de Água da cidade em homenagem a outro presidente ditador, Castelo Branco. O que esse general tem a ver com Juiz de Fora? Nada.

Outro bom exemplo a seguir é a praça do bairro de elite do Bom Pastor, que até 1995 era denominada em homenagem a outro general da ditadura militar no Brasil, Presidente Garrastazu Médici, nome que foi modificado para Praça Daltemar Cavalcanti Lima, em homenagem ao jornalista conhecido como “O Poeta da Madrugada”. Justiça foi feita.

Enquanto vamos naturalizando essas barbaridades, deixamos de homenagear as tantas personalidades locais que realmente contribuíram para a construção da cidade e das quais deveríamos nos orgulhar. Enquanto não acordamos para esse fato, negros, operários, políticos, lutadores, educadores e benfeitores que nos entregaram essa bela cidade, nossos heróis de verdade, continuam deitados nos baús da nossa história.

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