Sem fartura
Inflação de alimentos deve dar folga em 2021, mas outros itens já começam a pressionar preços
O consumidor que vai aos supermercados todo final do ano tem sempre a mesma impressão: a de que tudo subiu exorbitantemente nas gôndolas. O Natal já passou, mas dentro de casa os preparativos para a ceia da virada, mesmo em tempos de pandemia e isolamento social, continuam a exigir compras extras de alimentos e bebidas. Mas o susto com o que se coloca dentro do carrinho é inevitável e tem uma razão a mais este ano. Os alimentos foram os vilões das altas de preços em 2021 e é uma preocupação para os próximos meses.
A disparada dos alimentos ocorreu por conta da grande desvalorização do dólar e a maior demanda no mercado interno e externo. O problema é que o aumento atingiu itens considerados essenciais da cesta básica, como arroz, feijão, tomate, batata, leite e derivados, além de óleos e gorduras. Não dá para esquecer as cenas de consumidores nos supermercados, mostrando o impacto do encarecimento do arroz no seu dia a dia. E quem acaba sentindo mais no bolso são as famílias mais pobres, de baixa renda, que gastam parte importante do que ganham apenas com alimentação.
Especialistas vêm dizendo que os preços dos alimentos devem dar uma trégua em 2021, mas ainda há expectativa de a inflação continuar pressionada por alguns itens. Dois grãos importantes na composição dos artigos que estão na mesa do brasileiro, soja e milho, seguem em alta na cotação em dólar agora no final do ano. O alívio no gasto com a comida é importante, porque boa parcela da população deve ficar sem ajuda para o consumo este mês, com o fim do auxílio emergencial pago pelo Governo federal.
Sem esse suporte, que foi considerado fundamental para que as famílias mais necessitadas pudessem passar a ter um mínimo de renda diante de uma economia em crise e com desemprego, há preocupação de como vai ficar a situação no primeiro semestre de 2021. Por isso, sinais de arrefecimento da inflamação dos alimentos são tão importantes. Economistas, entretanto, apontam para um novo foco de pressão inflacionária, que deve vir de dois grupos: os serviços e os preços administrados, cujos reajustes precisam ser autorizados pelo Governo.
Os preços administrados, que incluem tarifas de transporte, combustíveis, planos de saúde e medicamentos, ficaram estagnados em boa parte do ano, mas começam a sofrer mudanças bruscas nesta virada do ano. A energia elétrica já voltou com força este mês, com a bandeira tarifária vermelha que cobra uma taxa extra de R$ 6,243 a cada 100kWh. Gasolina e diesel também foram majorados nas refinarias, e o aumento deve chegar às bombas em poucos dias. Em janeiro, os reajustes dos planos de saúde, que foram congelados por conta da pandemia, podem chegar até a 35%.
De qualquer forma, o que a maioria dos economistas defende é que o Governo adote políticas estruturais na economia. A anunciada reforma fiscal continua parada no Congresso e, se não avançar, deve ser mais um motivo para pressionar o câmbio e, consequentemente, os preços e a inflação. Especialistas em finanças sabem que o Governo precisa começar a agir para que o país consiga começar a crescer num ritmo sustentável, independentemente das questões ligadas à pandemia. Ou é isso, ou o trabalhador de baixa renda vai continuar sentando à mesa contando trocados para completar a cesta básica.