Embate nas redes

Bate-boca pelas redes sociais dentro da estrutura de poder compromete projetos por nem sempre serem feitos em cima de dados confirmados


Por Tribuna

30/10/2020 às 07h00

As redes sociais, que mudaram a forma de comunicar da sociedade, são um avanço próprio da pós-modernidade, mas trouxeram consigo algumas mazelas que precisam ser discutidas sistematicamente pela própria sociedade. Há uma clara glamorização dos eventos, bastando ver o comportamento coletivo no Instagram: todos estão felizes, como se a vida fosse um eterno mar de rosas. No Facebook e no WhatsApp, a discussão passa pelo patamar do descuido. O compartilhamento de informações tornou-se rotina, sem qualquer zelo de apuração. O resultado é a propagação de notícias falsas, que desconstroem biografias, sobretudo no período eleitoral.

Mas há, agora, um novo fator: o jogo rápido nos comentários, também sem a preocupação com as consequências, ou a postagem deliberada, própria para bolhas, mas com resultados em outras instâncias. Há cerca de 15 dias, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamou seu colega de Esplanada, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, de “Maria Fofoca”. Ganhou aplausos da área ideológica do Planalto, críticas dos militares, e causou estupefação na sociedade ante o modo como ele agiu. Pediu desculpas, mas o dano já estava feito.

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Na quarta-feira, Salles voltaria ao centro das discussões ao supostamente reagir a um comentário do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chamando-o de “Nhonho”. Na sua própria conta do Twitter, o ministro se disse vítima de um hacker, pois não teria feito a postagem. Por segurança, segundo ele, apagou a conta. Se convenceu, é outra história, mas o presidente da Câmara também tem entrado em divididas desnecessárias, como se quisesse se apresentar como um ouvidor da sociedade. Criticou Salles, por ofender o general, e bateu no presidente do Banco Central, por ter vazado uma conversa reservada. O presidente do BC negou, e Maia apagou o comentário.

Reagir sem apurar tem suas inconveniências, sobretudo quando são ações implementadas por atores políticos que deveriam ter mais cuidado com o que falam ou escrevem. Embora assessorados, continuam cometendo erros que só ampliam o clima de beligerância pelo país, ignorando um princípio que deveria ser cláusula obrigatória: ou se deve ficar calado ou dizer coisas que valham mais do que o silêncio.

Os episódios desta semana não foram os primeiros nem serão os últimos, mas é fundamental colocar essa questão sistematicamente à mesa, por conta dos danos que o “dedo nervoso” pode provocar. Por enquanto, são farpas, mas chegará o momento em que a precipitação poderá ter consequências mais graves e irreversíveis.

 

 

 

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