Entre palavras e atos
Assédio, racismo e outras ações do mesmo perfil precisam ser condenadas pela sociedade e passíveis de punição pela Justiça
Em tempos de redes sociais, fatos presentes ou pretéritos ganham ostensiva repercussão, independentemente da estatura social dos envolvidos. A semana, que ainda está pela metade, registrou dois episódios, que em outros tempos passariam batido no noticiário e nas conversas, que carecem de discussão permanente. Na segunda-feira, um áudio do ex-piloto Nelson Piquet, gravado já há algum tempo, revelou o preconceito do tricampeão da Fórmula 1, ao chamar de “neguinho”, em mais de uma vez, o também piloto, sete vezes campeão do mundo, Lewis Hamilton. Piquet questionou a tradução, mas as críticas iniciais vieram do Brasil para a entrevista dada em português.
Ele se desculpou e disse que nem na Fórmula 1, ou em parte alguma, se tolera o racismo.
Já nessa quarta-feira, o noticiário – inicialmente o site Metrópoles, do Distrito Federal – denunciou as inconveniências do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, acusado de assédio sexual a funcionárias da própria instituição. Os depoimentos são graves e revelam o comportamento errático de um membro do alto escalão do Governo, agora a ser substituído pela economista Daniella Marques, braço-direito do ministro da Economia, Paulo Guedes.
O ponto a ser discutido não passa, necessariamente, pelo papel que a sucessora vai desempenhar à frente de um dos maiores bancos de fomento, e sim em torno do comportamento do dirigente ora em fase de substituição. De acordo com outras denúncias, não é de hoje que ele tem o comportamento que fere a dignidade das vítimas, pressionadas pelo personagem que faz uso da própria autoridade.
O uso do poder é uma das tipificações para crimes de tal monta, e o que ora se revela não é um dado novo. Tanto na esfera pública quanto na privada, os casos se multiplicam através dos tempos. As redes sociais reverberam os fatos, mas antes delas já eram conhecidas denúncias que ficavam mais no campo das especulações do que da realidade ante a incapacidade das próprias vítimas, ora por desconhecer seus direitos, ora por não ter a guarida da própria legislação.
Pelas redes sociais, vários personagens mostram dramas de infância ou da adolescência, quando tentavam ingressar no mercado de trabalho. Vários artistas (mulheres e homens) revelam que eram induzidos ao chamado “teste do sofá”. Ninguém denunciava, e a própria sociedade tinha um olhar complacente para esse tipo de crime. Ontem mesmo, a senadora Simone Tebet, que tentará a Presidência da República, utilizou sua conta para revelar que também já foi assediada no ambiente de trabalho. “Já fui assediada no ambiente de trabalho, já sofri assédio moral no ambiente político. Mulheres não podem e não vão aceitar esse assédio”, advertiu.
A sociedade tem que reagir e denunciar, sobretudo pelo agravante de muitos desses episódios contarem com respaldo de terceiros, que preferem o silêncio a tomar algum tipo de decisão.