Papel do eleitor

O exercício da cidadania, que se consolida diante das urnas, é um processo permanente, para evitar armadilhas próprias para afetar a definição do voto


Por Tribuna

30/01/2022 às 07h00

O eleitor deve ficar atento a algumas ações próprias dos anos de eleição, sejam elas municipais ou gerais, como a que está prevista para o dia 2 de outubro deste ano. O número de denúncias toma forma hiperbólica, e as fake news entram em cena, ora desconstruindo biografias, ora apresentando fatos inverídicos, mas com capacidade para criar danos a terceiros ou à própria população. Por isso, ficar atento ao que está circulando, especialmente pelas redes sociais, tornou-se um exercício diário, pois é por elas, especialmente, que transita esse ciclo de desinformações.

Há, é fato, denúncias fundamentadas que devem ser investigadas em toda a sua extensão, mas é necessário um olhar cartesiano para avaliá-las. Durante toda a sua vida política, o ex-presidente Itamar Franco nunca falou com visitantes, inclusive jornalistas, sem a presença de um terceiro, para evitar distorções ou falsas informações. Quando no Palácio do Planalto, recebeu o então senador Antônio Carlos Magalhães – o mais poderoso político da Bahia -, que queria lhe entregar um dossiê. Itamar o recebeu, mas, como se tratava de uma denúncia, convidou a imprensa para participar da audiência. Um desconcertado ACM apresentou um monte de jornais antigos e deixou o palácio com a promessa de nunca mais falar com Itamar. Cumpriu.

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A atitude do ex-presidente é um antídoto a portadores de notícias falsas, sobretudo quando a autoridade tem um compromisso com o processo ético e não se deixa levar pela primeira denúncia. Duvidar de tudo não é descortesia, é apenas garantir que, na busca da verdade, se chegue aos verdadeiros fatos.

A população também pode ser vítima direta da falsa informação, cujos danos, em muitas ocasiões, são irreversíveis. O episódio da Imbel em Juiz de Fora é um dos mais emblemáticos. No dia 16 de agosto de 2016, no Bairro Araújo, quando houve a explosão de um dos paióis, às margens do Rio Paraibuna, as primeiras informações, com vídeo e áudio, apontavam para uma tragédia, com mortos e feridos em profusão. Os danos foram apenas materiais, mas, até que houvesse o desmentido pelas autoridades e pela mídia formal, muita gente entrou em pânico, especialmente parentes e amigos de possíveis vítimas, que moravam fora da cidade.

O Tribunal Superior Eleitoral já anunciou uma série de providências para garantir uma disputa limpa, na qual os programas de governo e demais propostas sejam o ponto central da campanha, apartados do jogo bruto do denuncismo, mas cabe ao próprio eleitor se precaver. O simples gesto de compartilhar uma informação sem verificação de sua veracidade pode produzir resultados nefastos, mesmo que não haja a intenção do dano.

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