Jogos de poder
Legislação que trata do fim das coligações tem como foco a redução dos partidos, mas, para mudar o cenário partidário do país, é preciso avançar na legislação
Uma das razões para implementação do fim das coligações proporcionais, com a primeira experiência prevista para o pleito de 15 de novembro, foi reduzir o número de partidos, uma vez que os acordos de outras épocas, muitos deles firmados por partidos sazonais, ficaram comprometidos. A eleição de vereador – como será o caso deste ano – tornou-se uma demanda de cada um por si, distante do cenário anterior, em que muitos eleitos conseguiram o mandato por conta do esforço de terceiros e outros ficaram de fora, embora tenham tido um volume de votos bem mais expressivo do que alguns que chegaram ao Legislativo.
Era do jogo, e não há o que discutir, mas a tentativa de reduzir o número de legendas não se esgota nessa elaboração da Justiça Eleitoral com respaldo do Congresso. São necessárias novas medidas, pois muitos acordos são forjados depois do pleito, com a criação de blocos políticos apartados do interesse popular. No Congresso, especialmente, funcionam vários lobbies informais instalados dentro das próprias legendas. Há, assim, a bancada da bala, a bancada dos religiosos, dos fundos de pensão e outros tantos, que acabam atuando mais em função de grupos do que em nome do todo.
A semana começou com o MDB e o DEM anunciando seu desembarque do Centrão, talvez o bloco mais expressivo, que, ao curso da história recente, vem se equilibrando diante de vários governos. Desde a social democracia de Fernando Henrique – quando contribuiu expressivamente para o projeto de reeleição -, passando pelo petismo de Lula e Dilma e pelo equilibrismo de Michel Temer, o grupo, agora, tenta se aliar ao Governo Bolsonaro, utilizando os fins para justificar os meios.
A saída do MDB e do DEM, no entanto, não foi apenas em função de pruridos éticos, sendo marcada, também, pelo jogo de poder que começa a ser jogado em torno da sucessão tanto na Câmara quanto no Senado. O Governo tem um interesse distinto da corrente liderada pelo deputado Rodrigo Maia, que pode até sair do cargo, mas tem séria pretensão em continuar sendo um player da política. O senador Davi Alcolumbre, do Senado, é menos discreto. Tenta, ao arrepio da atual legislação, emplacar mais um mandato na presidência. A conferir.