Além dos ônibus
A discussão em torno da mobilidade urbana envolve o transporte coletivo, mas é um tema mais amplo, que carece de investimentos permanentes
A audiência pública da última segunda-feira, que, de acordo com os termos de convocação, discutiria a remodelação do sistema de transporte de Juiz de Fora, tornou-se um encontro de uma nota só: a situação do Consórcio Manchester, cujo contrato de concessão foi denunciado pela Prefeitura por meio de um decreto de caducidade. Os pronunciamentos foram focados especialmente nos trabalhadores, que pediam a revogação da decisão, a despeito de o secretário de Mobilidade, Tadeu David, observar que, ante efeitos já consumados, não há volta. A última saída será a judicialização do caso, mas ele também alertou que a Municipalidade já tem decisões favoráveis, quando enfrentou o tema na instância local.
Ao fim, não houve qualquer deliberação, ficando a audiência com jeito de encontro de esclarecimento, especialmente aos funcionários, já que os dirigentes do consórcio não compareceram. O autor do requerimento que levou ao encontro, vereador André Luiz, queixou-se, e com razão, que sua proposta era bem mais ampla. Lamentou também a ausência das partes diretamente envolvidas no transporte e de representantes de diversas instâncias que não compareceram.
O tema, porém, é de grande relevância, por tratar-se de um desafio que tem perpassado diversas administrações. Ao colocar o tema na pauta de sua gestão, a prefeita Margarida Salomão agiu com coragem, o que é reconhecido até mesmo por seus adversários, já que diversos mandatos não avançaram na discussão, especialmente após o desfecho de uma Comissão Parlamentar de Inquérito instalada pela Câmara, que apontou diversas mazelas no setor.
A remodelação do sistema é, porém, uma pauta diretamente ligada à mudança na mobilidade urbana, que vai além da questão dos ônibus. Juiz de Fora apresenta problemas de toda ordem, o que, é fato, não se resolve num só mandato, mas que precisa ser enfrentado imediatamente. Com uma topografia comprometida por montanhas, apresenta a primeira dificuldade no estabelecimento de novas vias. A cidade – como as demais metrópoles brasileiras – assistiu ao crescimento de sua frota de automóveis sem que isso implicasse novas vias.
Como resultado, os congestionamentos tornaram-se rotina nos horários de pico, isto é, tanto pela manhã quanto no fim do expediente. Trânsito lento implica, necessariamente, maior consumo de combustível. Com o preço ainda indomável – é preciso ver os resultados da redução do ICMS -, os custos dos usuários subiram em proporção geométrica. Em tese, a saída seria utilizar o transporte público, mas este, como mostram as denúncias, por enquanto, não corresponde às expectativas.
Apenas com o modal rodoviário, a cidade vive o dilema de encontrar soluções. A construção de novos viadutos pode reduzir os engarrafamentos, mas é preciso ir além, com eventos que garantam a qualidade do sistema. Na audiência de segunda-feira, as queixas frequentes não ficaram apenas nas condições dos ônibus, mas também dos pontos e dos horários. O trabalhador – e de novo é um quadro nacional – pena para chegar ao serviço, e o atraso causa danos também ao empregador. Essa cadeia de episódios é a questão a ser superada.