Hora dos bombeiros
O esgarçamento das relações institucionais carece do envolvimento de segmentos dispostos a pacificar os ânimos e definir o coronavírus como o único inimigo a ser enfrentado no momento
Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora e às plataformas digitais do Grupo Solar de Comunicação, o senador Antonio Anastasia (PSD) resumiu bem o sentimento que deve prevalecer, no momento em que as instituições, especialmente Executivo e STF, se encontram em aberto conflito por conta de decisões da Corte e de reação do Governo e de seus seguidores em acatá-las. Embora em menor tensão do que na quarta-feira, a quinta-feira teve momentos críticos, especialmente quando o presidente Jair Bolsonaro disse que ordens absurdas não podem ser cumpridas, numa clara alusão às decisões do ministro Alexandre de Moraes, que preside inquérito contra as fake news, intimando vários seguidores do chefe do Governo.
Para Anastasia, o embate nas redes sociais tem sido voltado para grupos com os quais tais personagens se identificam, enquanto a sociedade, como deve ser, esteja mais preocupada com as consequências da pandemia do coronavírus nas suas vidas e na economia. O parlamentar, que, além de ter sido governador, é professor universitário, diz ser necessário haver bom senso e respeito às instituições. Posição análoga adota o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que, em novo pronunciamento, pediu serenidade das autoridades.
Ambos estão certos em agir como bombeiros, uma vez que o esgarçamento das relações institucionais só prejudica os segmentos que estão fora dessa peleja: a população, pelo dano direto à sua vida, e a própria economia, com a imagem a ser passada para os parceiros comerciais do exterior. O mercado, sensível a toda sorte de sobressalto, também acompanha, preocupado, esse enfrentamento, que acaba, no todo, comprometendo até mesmo as medidas de combate à pandemia.
O que se vê, hoje, são governadores apartados desse embate seguindo a máxima de não se envolver em briga de terceiros, mas, ao mesmo tempo, engessados no necessário diálogo que deveria ser implementado sistematicamente pelas instâncias de poder. Prefeitos, que têm o retrato real dos fatos por estarem à frente do problema, governadores e presidente, em situação como essa, em que teriam que manter a interlocução necessária para a tomada de decisões.
O envolvimento do viés político em nada ajuda, embora a visão de processo para combater a pandemia possa ser diferente. Até mesmo nestes casos, em vez do impasse, o correto seria procurar o ponto comum para a devida solução.